domingo, 23 de novembro de 2014

Soberania II



O livre-arbítrio do Homem só é possível de expressão se for acompanhado de um exercício de soberania. A soberania, sendo resultado da criação de Deus, só pode originar-se também n'Ele. Como discorremos em artigo anterior, toda a soberania é um subconjunto da Absoluta que Lhe pertence. Este exercício de soberania nunca pode ir de encontra o propósito de Deus, senão como um desvio temporário, um ruído no seio da eternidade, que diminui de importância na medida em que esta decorre. Mesmo assim, Deus não deixou o Homem ao desamparo, concedendo-lhe uma ferramenta orientativa: a consciência.

Paulo desenvolvendo sobre a consciência, tornou bem clara a intenção de Deus ao criá-la. Ele argumenta que é ela, que ao tornar-se uma Lei para o indivíduo, o torna responsável moral pelos seus actos e constitui a base para o seu julgamento. Reparem que julgar é um exercício de soberania. Mas o extraordinário é que o indivíduo não é julgado pela Lei de Deus, conforme vulgarmente entendida, mas julgado pela Lei da sua própria consciência! Isto só faz sentido, como muito bem argumenta Paulo, se a consciência for um reflexo da soberania de Deus, e desse modo uma espécie de subconjunto da sua Lei. Assim a violação da Lei de Deus, é primariamente uma violação da consciência.

Singrando por argumentos semelhantes é que os julgamentos dos nazis em Nuremberga, puderam fazer sentido. Mesmo respaldando-se no cumprimento da lei nazi, ou do cumprimento de ordens através das estabelecidas hierarquias, os julgamentos de Nuremberga estabeleceram o primado da consciência, anulando qualquer lei ou ordem, face a uma violação da consciência. Raciocínio que aliás tem permanecido até ao presente e constitui também a base para os chamados julgamentos de crimes contra a Humanidade.

Jesus modestamente não extravasou os limites da sua soberania (Luc.12:13,14). Já outros não se coíbem de dela se apropriar amplamente, quer auto designando-se governantes por direito divino, mesmo que de Deus não tenham recebido qualquer mandato. No entanto, ele mesmo usou sua consciência na aplicação e extensão que considerou necessário, mostrando em magistral exercício, como a consciência individual complementa a Lei de Deus na sua forma escrita. Ele mostrou que a Lei de Deus não está escrita na pedra, mas deve estar escrita no coração. (Jer. 31:33)

Há vários exemplos em como Jesus reinterpretou a Lei com base na sua consciência. Um exemplo tocante, é o da cura da mulher com o fluxo de sangue, que pela Lei ao entrar no meio da multidão incorreu numa violação da mesma. A posterior cura da mulher e a frase de Jesus: "Filha, a tua fé te fez ficar boa; vai em paz." (Luc. 8:48) Realço a palavra "vai em paz", após uma violação clara da Lei.

O aproximar-se e o tocar os leprosos, foram também violações directas da Lei. Podemos pensar que para os curar isso se fez necessário, o que é falso, pois Jesus foi capaz de curar à distância.

Jesus mostrou que a soberania divina, expressa através da consciência, é capaz de grandes feitos espirituais, conforme ele reconheceu no oficial do exército romano, quando lhe reconhece uma fé enorme. (Mat. 8:5-13) É bom lembrar que os que foram escolhidos como apóstolos, eram israelitas e de facto vez após vez, lhes censurou a falta de fé (Mat. 8:6; mat. 14:31; Mat. 16:8; Mat. 17:20) Estas coisas podem ter desenvolvimentos em termos de argumentação, deveras curiosos. Vejamos: se gentios à luz de Deut. 14:21, ao não estarem debaixo da Lei, podiam comer animais não sangrados sem pecar, então ao ficarmos libertos da Lei, de igual forma ficamos livres dessa exigência. Nesse contexto devem ser entendidas as palavras de Paulo "...comei de tudo o que se vende no açougue..." (1 Cor. 10:25) A consciência pode então anular o acessório na Lei de Deus, sendo o acessório a regra, permanecendo os princípios. Como explicou Jesus, é preciso perceber o sentido dela (Mat. 23:23; Mr 2:27)

Nos tempos antigos a soberania de um pater familia era bastante abrangente, incluindo escravos e escravas, as esposas e os filhos. Estes, enquanto debaixo do seu tecto, eram equiparados a bens, na mesmissima categoria das casas, campos, gado e escravos!

Só assim se entende as relações de Abraão com as servas de Sara, não serem equiparadas a adultério! Os  direitos de propriedade, eram expressão da sua soberania e enquanto propriedade podiam ser usados conforme lhe aprouvesse, de forma perfeitamente legítima.

Hoje isto soa-nos chocante, uma terrível coerção da soberania dos outros, que subalterniza, esposa, filhos e escravos. A estes últimos retira-se-lhes o seu estatuto de seres humanos, também eles com direito à expressão da sua soberania.

Não mostra isso uma falha básica na expressão da soberania através da consciência?

Reflectindo nisso, percebemos que a consciência é moldada pelo consenso social e só pode reflectir o nosso progresso enquanto humanidade. Por isso julgar as acções do passado com base nos nossos valores actuais só pode redundar num julgamento injusto. Mas, de igual forma, julgar acções actuais à luz de antigos valores, será igualmente injusto! Deus, ao julgar com base na consciência individual, não comete esse erro.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Soberania



O conceito de soberania está ligado a autoridade, a poder. Por isso a temática em volta de Deus meia-volta aqui vem ter. Soberania tem também que ver com autodeterminação, livre-arbítrio. Não pode haver uma expressão de soberania sem verdadeira escolha, pois sem escolhas, não faz sentido. Mais uma vez estamos num exercício de exegese sobre o escrito sagrado. 

Deus ao criar o Homem, e ao conceder-lhe o livre-arbítrio, transfere uma parte da sua soberania, assumida como total, plena e universal para nós. Deus dignifica-nos ao conceder-nos, assim, uma qualidade que é inerentemente sua. A nossa soberania resulta da que nos foi concedida. 

Assim, qualquer outra soberania para além da de Deus, é a individual. As nações têm uma, porque enquanto cidadãos lha concedemos. 

Diz a teologia das Testemunhas de Jeová, que ao invés da grande luta cósmica entre o Bem e o Mal, a grande questão é saber quem manda, ou seja trata-se de questionar a soberania universal de Deus [1]. A questão é então a seguinte: será que a Bíblia se resume afinal a uma defesa da soberania de Deus? Um apelo às armas, para que apoiemos a Deus? 

Em princípio isso poderá parecer assim, se encararmos o Diabo como um usurpador pleno de Deus, papel que nas Escrituras nunca reveste. 

E perguntais, então e o Reino, não é uma expressão de soberania? Sim, de facto o é, mas apenas num reflexo dela, o seu papel esgota-se mal se alcança a redenção da humanidade. Como expressão da soberania de Deus, seria pálida e fraca, quando considerada à escala da eternidade. Aliás, o Reino é um mero arranjo temporário [2]. Mesmo a representação da soberania de Deus por meio da realeza israelita foi um arranjo espúrio ao pensamento de Deus, conforme se pode ver do diálogo que Deus teve com o profeta e sacerdote exemplar Samuel. No diálogo havido entre ambos, o pedido de um Rei por parte dos israelitas foi comparada a uma rejeição do próprio Deus! [3] Seria assim estranho que o facto de haver reis em Israel, fosse uma representação adequada da soberania de Deus. Mas então e Jesus ser Rei? Não é isso uma manifestação de que o que estava em causa era a soberania de Deus? Lembrem-se que o arranjo do Reino, visa a redenção do Homem, o restabelecimento da relação com Deus; como dizia Paulo, a pregação do vindouro Reino, era um “ministério da reconciliação” [4]! O que foi rompido e urge restabelecer é a relação com Deus! E como se quebram as relações? Pela falta de confiança! 

Olhemos então para o relato de Génesis para verificar essa quebra de confiança entre o Homem e Deus. Adão toma Deus como mentiroso quando aceita comer do fruto. A serpente mente, o homem morre [5]. A mulher foi enganada por esta mentira, conforme atesta mais tarde Paulo [6]. O que é certo é que aceitar Deus como mentiroso, atirou-nos para longe da sua intimidade, deixou-nos sujeitos a todos os enganos e astúcias maldosas, para nosso próprio mal [7]. Nesta tentativa de reconciliação, de retoma da relação com Deus, este sempre andou a estender-nos a mão, a tentar ajudar-nos, seus apelos constantes são no sentido de que confiemos n'Ele [8]. Não é Ele o mentiroso o que nos quer privar do que é bom, mesmo que lhe chamem “conhecimento do que é bom e mau” [9]. Mas atenção, o mentiroso é o Opositor! É o Diabo que nos afasta de Deus em permanência, conforme a denúncia de Jesus [10] ou como se torna visível no livro de Jó quando tomamos a atenção devida. Ali em Jó, apesar dos seus esforços de tentar separar o Homem da intimidade de Deus [11], ele não se atreve a ultrapassar os limites da Soberania de Deus [12]. Se essa fosse a grande questão, ele não esperaria a permissão de Deus para actuar e não se manteria nos limites impostos por esta [13]. 

Portanto a ideia de que o grande drama universal é uma questão de soberania, só se pode originar de mentes preocupadas com quem manda! Jesus, avisou sobre esse perigos por diversas vezes, sabendo que a tentação do poder é enorme. Jesus disse-lhes: “Mantende os olhos abertos e vigiai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus.” [14] Sendo que disse também que os cristãos não deviam almejar o poder mas antes o servir, o ministrar aos outros [15]. Quem de facto estava preocupado com questões de soberania eram os inimigos de Cristo[16], os que se afoitaram a pendurá-lo numa estaca sobre a acusação de blasfemo! Para esses tudo não passava de estratégia política, mesmo que inadvertidamente cumprissem profecia [17]. 

Mais uma vez, esta questão teológica de afirmar que o que está em causa no grande drama universal é a Soberania de Deus, é um conceito sem grande suporte numa análise cuidada do texto sagrado. A teologia das Testemunhas é uma construção frágil, e apenas resulta porque a maioria se remete a seguir sem analisar profundamente a questão. A liderança sabe disso e também não estimula um estudo profundo, que vá para além da superfície. Ganham peso as palavras de Jesus quando disse aos que ensinavam a Palavra no seu tempo: “Deixai-os. Guias cegos é o que eles são. Se, pois, um cego guiar outro cego, ambos cairão numa cova.” [18] A liderança tejotiana há muito que lá caiu e tudo o que tem feito é cavá-la ainda mais. Que lhes adianta a sua obra de pregação? Arrastarem rebanhos de ingénuos que como Eva, vão atrás de um pretenso “conhecimento”, que é afinal uma “astúcia” para os levar ao engano? 

E tal como os fariseus têm cumprimento nela as palavras de Jesus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra seca para fazer um prosélito, e, quando se torna tal, fazeis dele objecto para a Geena duas vezes mais do que vós mesmos.” [19] 

 [1] Por defeito a soberania de Deus é sempre Universal, e até mesmo meta-universal! Ela tem de alcançar o terreno e o espiritual pelo menos, ou nunca fará sentido. 
[2] Apocalipse 20:4 “E passaram a viver e reinaram com o Cristo por mil anos.” 
[3] 1 Samuel 8:6, 7 “Mas a coisa era má aos olhos de Samuel, visto que haviam dito: “Dá-nos deveras um rei para nos julgar”, e Samuel começou a orar a Jeová. Jeová disse então a Samuel: “Escuta a voz do povo referente a tudo o que te dizem; pois, não é a ti que rejeitaram, mas é a mim que rejeitaram como rei sobre eles. 
[4] 2 Coríntios 5:18 “Mas, todas as coisas são de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por intermédio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação.” 
[5] Génesis 3:4 “A isso a serpente disse à mulher: “Positivamente não morrereis.”” 
[6] 1 Timóteo 2:14 “Também, Adão não foi enganado, mas a mulher foi totalmente enganada e veio a estar em transgressão.” 
[7] Mas, tenho medo de que, de algum modo, assim como a serpente seduziu Eva pela sua astúcia, vossas mentes sejam corrompidas, afastando-se da sinceridade e da castidade que se devem ao Cristo. 
[8] Provérbios 3:5,6 “Confia em Jeová de todo o teu coração e não te estribes na tua própria compreensão. Nota-o em todos os teus caminhos, e ele mesmo endireitará as tuas veredas.” 
[9] Génesis 3:5 “Porque Deus sabe que, no mesmo dia em que comerdes dele, forçosamente se abrirão os vossos olhos e forçosamente sereis como Deus, sabendo o que é bom e o que é mau.” 
[10] João 8:44 “Vós sois de vosso pai, o Diabo, e quereis fazer os desejos de vosso pai. Esse foi um homicida quando começou, e não permaneceu firme na verdade, porque não há nele verdade. Quando fala a mentira, fala segundo a sua própria disposição, porque é um mentiroso e o pai da [ mentira ].” 
[11] Jó 1:10 “Não puseste tu mesmo uma sebe em volta dele, e em volta da sua casa, e em volta de tudo o que ele tem? Abençoaste o trabalho das suas mãos, e o próprio gado dele se tem espalhado pela terra.” [12] Jó 1:11 “Mas, ao invés disso, estende tua mão, por favor, e toca em tudo o que ele tem, [ e vê ] se não te amaldiçoará na tua própria face. ”” 
[13] Jó 1:12 “Por conseguinte, Jeová disse a Satanás: “Eis que tudo o que ele tem está na tua mão. Somente contra ele próprio não estendas a tua mão! ” De modo que Satanás saiu de diante da pessoa de Jeová.” [14] Mateus 16:5. No primeiro dos Evangelhos que se supõe ser de Marcos este texto adquire a seguinte redacção, deveras curiosa: “E ele começou a ordenar-lhes expressamente, dizendo: “Mantende os olhos abertos, acautelai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.” (Mr 8:15) A expressão “fermento de Herodes” é inequivocamente uma menção política, denunciando aquela política de se manter no poder a todo o custo! A redacção de Lucas 12:1 deixa de fora os saduceus e Herodes. 
[15] Mateus 20:25-27 “Jesus, porém, chamando-os a si, disse: “Sabeis que os governantes das nações dominam sobre elas e que os grandes homens exercem autoridade sobre elas. Não é assim entre vós; mas, quem quiser tornar-se grande entre vós tem de ser o vosso ministro, e quem quiser ser o primeiro entre vós tem de ser o vosso escravo.” 
[16] João 11:48 “Se o deixarmos assim, todos depositarão fé nele, e virão os romanos e tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação.” 
[17] João 16:49-51 “Mas um certo deles, Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: “Vós não sabeis nada e não deduzis logicamente que é para o vosso proveito que um só homem morra a favor do povo e não que toda a nação seja destruída. ” Isto, porém, não dizia de sua própria iniciativa; mas, porque era sumo sacerdote naquele ano, profetizava que Jesus estava destinado a morrer pela nação.” 
[18] Mateus 15:14 
[19] Mateus 23:15

domingo, 17 de agosto de 2014

O Poder da Morte



Nada deve ser mais aflitivo na vida do que a consciência plena de que somos mortais. Foi esse o preço a pagar por sermos portadores de um brilhante cérebro, que deixou de estar obcecado com a sobrevivência e em escapar da morte, para pensar nela enquanto tal, no que ele significa em termos individuais. Não pensamos muito nisso, porque é penoso, e quando somos obrigados a lidar com essa omnipresença da morte, temos a urgência de buscar respostas. Ela aterroriza-nos. Tudo o que nos puderem dar para amenizar esse medo, para a combater, nós vamos agarrar! Desse medo nasce uma obsessiva busca de se livrar da sua grilheta e na derrota, tivemos que conceber narrativas que tornassem fácil o manuseio [1]. É também nesse medo, que as religiões se alicerçam, construindo narrativas derivadas e usando-a como ferramenta de manipulação. Mas depois das narrativas onde o nosso desconhecimento permanece, e do qual não há vitórias, pois sempre ela acaba ganhando, tudo o que permanece é o medo. E é o medo, trazido por esta aguda consciência da morte e do seu poder inescapável que nos leva finalmente à conversão [2]. Por isso a fé não é uma coisa racional, porque no fundo é apenas um consolo.

Alguém disse que a melhor invenção da vida, tinha sido a morte, porque só por esta a vida pode evoluir [3]. Talvez seja assim, mas essa visão num contexto evolutivo, não consegue explicar tudo. Buscamos o sentido para que as coisas sejam assim, já que achamos a vida tão curta para a grandeza do Universo [4].

Mas aceitemos por hipótese, que a evolução é um acaso e que ela é a razão da nossa existência. Mesmo que ainda se debata porque caminho aqui chegámos [5]. Porque tem o Universo necessidade de vida? Porquê esta necessidade de através dela contrariar a tendência natural de ocupar o nível energético mais baixo? [6]. Isto é, não faz muito sentido numa visão meramente materialista e evolutiva do Universo, o gasto de energia em desenvolver a vida e esta sentir que tem de enveredar por uma complexidade cada vez maior. Sim, compreendo que posso ser acusado de um agenciamento que não existe no Universo. Aceito isso, mas fica sempre por explicar porque razão a evolução do Universo (e não apenas a evolução biológica) tem lugar. A menos que, como já referi em publicações anteriores, aceitemos o postulado do Princípio Antrópico, em que o Universo existe para que o possamos sentir. Ou seja, sem nós o Universo nunca teria lugar. Creio que percebem, os evolucionistas também, e é por isso que sentem um certo desconforto na ideia de que isto implica uma espécie de propósito latente, como se alguma entidade superior tivesse estabelecido um desígnio ao Universo.

Pode até argumentar-se que a evolução nos deu esta capacidade de agenciamento por uma questão de sobrevivência. Seja! Que as visões em túnel aquando das experiências de quase-morte, podem ser explicadas por uma má oxigenação do cérebro e a libertação de certas substâncias químicas que nos fazem ter essas visões [7]. Mas qual então a vantagem evolutiva desses mecanismos? Mesmo que fosse para ‘adoçar’ o momento da morte, como ele podia passar pelos genes para as gerações vindouras, se estamos a morrer e não há mais a possibilidade de reprodução? [8] A menos que a evolução não ocorra meramente por via reprodutiva, e volto a sentir desconforto, mas ocorra também por sincronicidade [9]. Admitir isso, é passar por cima do materialismo irredutível essencial à teoria da evolução, ou não será?

E se abrimos a porta, mesmo que por uma nesga, não virá por aí uma justificação de todos os misticismos deixados para trás pelo avanço de uma ciência materialista? Uma que nega que após a morte, não existe mais nada em termos de consciência? E que tal como dizia Salomão tudo na vida presente não passa de vaidade? [10] Não há metafísica na evolução, apenas pressões selectivas. Não há anjos, nem um Deus de barbas brancas. Não há nada. Apenas a máquina mundi a incinerar mundos e a criá-los por acaso, sem propósito, sem sentido, sem agenciamento nenhum. E contudo… Neste nosso desejo de saber, que nos levou da interrogação mais básica ao método científico, sempre suspeitámos que há algo mais para além. É por isso que ainda nos continuamos a interrogar, não é? Na ciência fomos corajosos ao deixarmos o senso comum, ou ainda hoje acreditaríamos que o Sol gira à volta da Terra e não o seu contrário. Sem o microscópio talvez ainda acreditássemos na geração espontânea de criaturas vivas! Percebemos que o que parece, nem sempre é. E continuamos a suspeitar que a vida guarda os seus mistérios. Talvez na próxima… [11].


[1] http://www.ted.com/talks/stephen_cave_the_4_stories_we_tell_ourselves_about_death
[2] https://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=51B8MzcxOX0#t=1088
[3] http://www.cultofmac.com/121101/steve-jobs-death-is-very-likely-the-best-single-invention-of-life-it-is-lifes-change-agent
[4] http://www.ted.com/talks/david_deutsch_on_our_place_in_the_cosmos
[5] http://www.ted.com/talks/elaine_morgan_says_we_evolved_from_aquatic_apes#
[6] http://pt.wikipedia.org/wiki/Entropia
[7] https://pt.wikipedia.org/wiki/Experi%C3%AAncia_de_quase-morte 
[8] http://pos-darwinista.blogspot.nl/2010/06/beco-evolutivo-sem-saida-nas-ilhas.html
[9] http://www.ted.com/talks/steven_strogatz_on_sync
[10] Eclesiastes 1:2; 3:9; 12:8
[11] http://www.ippb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2644:pesquisas-cientificas-sobre-a-reencarnacao&catid=80:mythos

domingo, 3 de agosto de 2014

Os amigos do Diabo



Pintura de Hyeronimous Bosh

Alguém disse que “...o Diabo tem muitos amigos, mas não é amigo de ninguém...” frase esta que demasiadas vezes se tem revelado genuína. Pode parecer contraditório que alguém queira amizade com tal personagem malevolente e traiçoeira, mas quando vemos no mundo real os admiradores de ditadores e criminosos de guerra, devemos procurar as razões da amizade em outra parte. Nem sempre a amizade resulta desinteressada, de modo que certamente os amigos do Diabo buscam com ela alguma vantagem. 

Nem sempre é clara essa amizade, assim como nem sempre é clara a vantagem. Mas os psicopatas têm uma racionalidade que a razão desconhece e são esses os que mais buscam a amizade do Diabo. 

A questão precisa contudo recuar no tempo: Donde surgiu o Diabo?

Num mundo influenciado pelo pensamento judaico-cristão até ao excesso, o Diabo parece ser quase tão antigo como o Deus bíblico. Faz parte do grande drama cósmico que nos arrasta na sua esteira até à consumação dos séculos, em que se espera, finalmente o mal tenha fim, vencido pelas forças do Deus Bom. De facto, o Diabo é o mais perto do dualismo que o monoteísmo judaico-cristão consegue chegar. Ele, o Diabo é absolutamente necessário para que um mundo terrível e abundante em maldade, possa coexistir com um Deus primariamente Todo-Poderoso e simultaneamente amoroso. Não que a presente situação acabe a abonar em favor Dele, mas confere-Lhe atenuantes. 

Aliás se lermos o AT (escritos hebreus) não encontramos a personagem, a não ser aqui e ali, meio envergonhada e sempre subserviente do Todo-Poderoso. Não fosse sermos acusados de preconceito e quase diríamos que o Diabo dos judeus é um Diabo tímido, destinado a fazer o trabalho sujo que Deus por alguma razão não quer fazer. Temos os sacrifícios destinados a Azazel [1], que os judeus deviam fazer a par dos sacrifícios ao Deus, Jeová; mostrando uma situação de igualdade entre os dois, num dualismo expresso.[2] Embora possa resultar numa surpresa para o crente, para o historiador talvez não seja, porque vê nisso um reflexo do pensamento da época. Israel não vivia numa redoma e era permeável aos pensamentos dos seus vizinhos, nomeadamente cananeus, babilónios e egípcios. Estes vizinhos tinham nas suas mitologias personagens que travavam a Grande Batalha Cósmica contra as forças do mal. Podemos dizer que, na sua essência, eram dualistas: as forças do Bem contra as forças do Mal. Israel, com o passar do tempo, e face a uma nação permanentemente invadida e subjugada, precisou de explicar a ausência de Jeová no seu destino. Uma forma de explicar porque foi necessário o período Macabeu contra o helenismo invasor e mais tarde a subjugação romana. Inseri-lo num drama cósmico, não retirando a sua esperança de uma libertação divina. No cristianismo isto vai tomar uma outra dimensão e passar a outro plano, o plano espiritual, deixando todas as contradições terrestres. 

O Diabo que até aqui era um ser tímido vai ganhando força na chamada literatura apocalíptica que começa a surgir no judaísmo, e que nos foi facultada pelas descobertas nas cavernas de Q'umran. Várias seitas judaicas, entre estas os essénios, viam-se envolvidas neste drama cósmico enquanto eleitos combatentes face a um mundo gigantesco vítima complacente e muitas vezes cúmplice das forças do Mal. O fim é sempre o mesmo, os eleitos das forças do Bem, acabam sempre vencendo o Mal por maior e mais forte que este seja. É permanente contudo esta situação de combate entre Bem e Mal. Sempre o dualismo. Mesmo o cristianismo era uma destas seitas judaicas, antes de se autonomizar. 

Por isso tudo, o Diabo parece pronto e acabado no NT (escrituras gregas), como se não fosse necessário explicá-lo, face às suas poucas aparições no AT. Só a título de exemplo, no AT não temos um único relato de um exorcismo e no NT eles são a eito! Só isso devia arrebitar as orelhas aos mais curiosos. 

Assim o Diabo, é uma criação não de si próprio, mas de homens perturbados com o problema de fazer coexistir a maldade com um Deus Todo-Poderoso e Bom. Não conseguiram vir com nada melhor do que a invenção de um Diabo, encarnando e dirigindo todas as forças do Mal! 

O Diabo é assim como um amigo imaginário, que tal como os amigos imaginários serve para nos tranquilizar, partilhar as alegrias e compartilhar das tristezas. É o recurso infantil de lidar consigo mesmo. 

Às vezes como humanidade, precisamos de um amigo imaginário. Mas um inimigo também pode fazer as mesmas vezes. Este inimigo imaginário passou a estar demasiado presente durante a Idade Média, onde especialistas teológicos entraram em frenesim com a personagem e perseguiram ferozmente todos aqueles que na sua suspeita pudessem ter algo a ver com o Maléfico. Chegaram a escrever doutos tratados sobre as actividades deste, quais as perguntas adequadas numa excomunhão para obter confissões das mais torpes fantasias, que afinal eram apenas reflexo da sua própria imaginação, muito mais do que de um mal real e concreto. Se ainda se tivessem ficado só pela escrita... Mas a perversidade em nome de Deus ou do Diabo, não sei qual é a mais horrenda. Só sei que foram queimadas pessoas, por serem diferentes, por não embarcarem em idiotices de inimigos imaginários ou por terem outros, não importa! Como disse um destes psicopatas no seu fervor religioso: “Matai-os a todos, Deus reconhecerá os seus!”[3] 

A caça às bruxas, ou seja a demência moral, vai atravessar vários séculos antes que a hectacombe reduza de velocidade e pare. E contrariamente ao que nos querem fazer crer, não há distinção na barbárie entre católicos e protestantes. Ainda subsiste no catolicismo como “Congregação para a doutrina da fé”. [4] No domínio protestante temos as Comissões Judicativas das Testemunhas de Jeová, que mais não são que tribunais eclesiásticos que julgam apostasias. [5] Apenas não queimam ninguém na fogueira ou praticam a lapidação, porque os Estados se fartaram dos disparates da religião e sensatamente se tornaram mais seculares. 

Ambos, quer sejam católicos ou protestantes, acham que toda a voz diferente, é a voz do Diabo. E embora se digam cheios de fé, parecem viver aterrados no medo do Diabo. Palpita-me que não acreditem que Deus seja Todo-Poderoso e devessem ser eles os primeiros a serem julgados. Nos seus medos, na sua fraqueza moral ceifaram muitas vidas. Não importa quantas foram, é irrelevante. Morrer por causa de uma fantasia criada por homens perturbados, mesmo que só uma vida fosse ceifada, já seria de mais. Para colocar as coisas na sua proporção imagine ser condenado porque admira o Darth Vader dos filmes Guerra das Estrelas[6], tendo em sua casa fotografias dele, ou talvez o capacete! 

Entende quão ridículo seria? Sim, compreendo o contexto histórico, toda a população partilhava da mesma fantasia, excepto os diferentes... Não se esqueça que por causa de fantasias semelhantes alguns ainda hoje podem pagar um alto preço, por serem diferentes dos outros, por não aceitarem as fantasias dos outros, as arbitrárias linhas de fronteira definidas pelos homem. E porque os contextos mudam, e porque mudam as fantasias, as linhas de fronteira e os costumes, não acham que faz sentido ao invés de matar, ostracizar, faz mais sentido tolerar? 

É que a intolerância, o rigor, o zelo, mesmo que aparentemente bem intencionado, apenas produz vítimas; fazendo com que muitos dos devotos de Deus, acabem sendo afinal verdadeiros amigos do Diabo.

[1] Levítico 16:10 “mas o bode sobre o qual recaiu a sorte para Azazel deve ser posto vivo perante Jeová para fazer expiaçãopor ele, a fim de ser enviado ao ermo, para Azazel.”
[2] Levítico 16:8 “E Arão tem de tirar sortes sobre os dois bodes, uma sorte para Jeová e outra sorte para Azazel.”
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada_Albigense#A_cruzada_dos_bar.C3.B5es_ou_guerra_rel.C3.A2mpago [4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Inquisi%C3%A7%C3%A3o
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Apostasia
[6] http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Gal%C3%A1ctico_%28Star_Wars%29

quarta-feira, 2 de julho de 2014

As Razões do Agnóstico


No que à crença em Deus diz respeito, há os que acreditam piamente os chamados teístas, os que não acreditam de todo, os chamados ateus, e aqueles que embora não ponham a hipótese de parte, acham que não há forte evidência para assegurar que existe. Por isso, há quem diga que um agnóstico, não passa de ateu envergonhado. [1] 

Para o agnóstico, de um ponto de vista pragmático, é irrelevante para os assuntos da humanidade a existência ou não de Deus, caso este exista. E até agora em termos objectivos ninguém pode provar a sua existência, mas também não é possível confirmar que não exista. Sim, a razão assiste ao agnóstico em abono da verdade. Ao contrário, o ateísta é redutor, assumindo como premissa a não existência de Deus. Neste sentido o ateu estreita a investigação, mesmo a realizada segundo o método científico. 

É, aliás, um erro comum assumir que Deus é inacessível porque supostamente vive numa outra realidade (outro Universo), mas Deus a existir tem a possibilidade de se manifestar no nosso. Até agora, nunca foi necessário em qualquer hipótese dita cientifica. Mas isso não quer dizer nada, o Universo continua a ser explicável, se retirarmos o parâmetro “tempo”. Sendo que até agora a unidireccionalidade deste continue a ser uma característica muito difícil de explicar. Serve esta consideração para reforçar a ideia de que apesar de Deus não fazer parte de nenhuma equação das leis que governam este nosso mundo, não quer dizer que um dia não venha a fazer parte! Mais uma vez os agnósticos estarão correctos na sua postura, mantendo pelo menos em hipótese, a abertura a um Deus criador. 

Há já propostas científicas que deixam em aberto essa possibilidade, para uma teoria que contenha a explicação do “tudo”[2]. Alguns propõem neste âmbito um salto qualitativo invertendo a causalidade, que ao invés de ser ascendente, possa ser descendente, ou seja, ao contrário de o Universo(s) ser construído a partir das partículas elementares e, pelas leis que as governam, originar tudo o que existe, há quem proponha o inverso, dizendo que tudo se origina na consciência e é esta que origina o Universo. Como percebem há aqui uma repescagem do Princípio Antrópico[3] misturado com conceitos de mecânica quântica.[4] 

Voltando às razões dos agnósticos e pelo que já mencionámos, mantém-se em aberto as explicações relativas ao Universo, mas mesmo em relação ao alcance do nosso conhecimento, ainda aí há muito desconhecido que não nos deve confortar numa posição demasiado pretensiosa. Curiosamente, é sempre através da cosmologia que os grandes problemas nos são colocados. Ao estudar o Universo e a distribuição da matéria nele, notamos que falta matéria. Como não sabemos onde ela pára, como não conseguimos vê-la, chamamo-la de “matéria negra”.[5] Outro problema cosmológico, é que se o Universo veio a existir por meio de um Big Bang, seria natural que, com o tempo, a velocidade de expansão fosse diminuindo. Mas o que se verifica é que a velocidade de expansão do Universo aumenta, ao contrário do que seria de esperar - que deveria estar diminuído. Donde vem a energia que suporta essa aceleração? Como não sabemos de onde vem, chamamo-la de “energia negra” [6]. E eis que, de repente, o Universo quase por inteiro nos é desconhecido. Para os materialistas irredutíveis, o seu conhecimento restringe-se a 5% do Universo[7]. Para o agnóstico, nesse desconhecido enorme, não podemos sem prova adequada, dizer que Deus não apareça! Os ateus argumentam que se trata do “Deus dos hiatos” e que à medida que o conhecimento aumenta o espaço para Deus, diminui de tamanho, já que este não se pode esconder nos hiatos cada vez mais estreitos. Mas o caminho parece ainda longo. 

Para além do mais, temos que dar-nos conta da existência de outros “espaços”, que se regerão obrigatoriamente por outras leis. Estes espaços poderão ser outros Universos, [8][9] o que, certamente, a provar-se a sua existência, apenas aumentará a nossa ignorância. Uma das interpretações da mecânica quântica implica como fundamental um observador (voltamos a pegar no Principio Antrópico) e que antes desse observador todos os estados são possíveis, o que levou ao famoso gato de Schrödinger que tanto podia estar morto como vivo.[10] 

Ficou já provado que são possíveis interacções à distância de forma instantânea, o que só é possível violando um dos postulados da famosa equação de Einstein E = mc2 em que o parâmetro “c” é a velocidade da luz no vazio, velocidade esta que nunca pode ser ultrapassada no nosso Universo. A experiência de Aspect, é prova de que estas interacções instantâneas são facto, o que se pode dar-se através de um fenómeno não-local (ou seja fora do nosso espaço-tempo) [11]. 

Portanto os agnósticos percebem que a postura mais correcta, pelo menos do ponto de vista dos que buscam a verdade. 

Não estamos a falar aqui da ausência de mudança, do alargamento semântico de algumas expressões. Mas isso ocorre naturalmente em todas as áreas de conhecimento. Não muda contudo a razoabilidade da postura dos agnósticos. 

Os ateus no seu reduto materialista (os tais 5% do Universo) muitas vezes na sua estreita visão da causalidade ascendente e de um determinismo irredutível, caiem na armadilha de acreditarem no destino! 

Quanto aos teístas e apesar dos seus melhores esforços, mesmo quando misturam ciência na sua argumentação, têm sempre tendência a levar o esforço demasiado longe e a descredibilizarem-se. O que acontece é que Deus, a existir, nunca se manifesta de modo conclusivo. Talvez Deus, a existir, seja demasiado envergonhado, o que nem custa compreender, quando ponderamos nas gritantes injustiças que grassam pelo mundo, entregue à mão de psicopatas, que a única coisa que parecem adorar é o dinheiro, tome ele a forma que tomar. Deus a existir seria cúmplice desta situação, coisa que qualquer um se sentiria envergonhado se conservasse uma réstia de consciência. É a armadilha teísta de ter um Deus para o Universo ter sentido. 

Os agnósticos, mantendo todas as hipóteses em aberto, não caiem em armadilha nenhuma.



[1] https://sites.google.com/site/dicionarioenciclopedico/agnosticismo
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_de_tudo
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_antr%C3%B3pico
[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Amit_Goswami
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Mat%C3%A9ria_negra
[6] http://pt.wikipedia.org/wiki/Energia_escura 
[7] http://astropt.org/blog/2013/10/26/composicao-do-universo/ 
[8] http://pt.wikipedia.org/wiki/Multiverso
[9] http://pt.wikipedia.org/wiki/Interpreta%C3%A7%C3%A3o_de_muitos_mundos
[10] http://pt.wikipedia.org/wiki/Gato_de_Schr%C3%B6dinger
[11] http://fr.wikipedia.org/wiki/Experience_d%27Aspect

terça-feira, 29 de abril de 2014

Renunciar à injustiça




Em "A Sentinela" de 15 de Julho de 2014, na página 12 e no parágrafo 2 está escrito:


Analisemos isso num exercício de auto-referenciação: 
- É ou não injustiça, desassociar pessoas por terem aceite prestar Serviço Cívico ao invés de Serviço Militar antes de o Corpo Governante dizer que isso é permitido?

- É ou não injustiça, no passado alguém ter sido desassociado por ter aceite tratamento à base de sangue e agora esse tratamento ser permitido porque o Corpo Governante autorizou?

- É ou não injustiça, dizer mal da ONU e depois o Corpo Governante autorizar a inscrição nela como Organização Não Governamental usufruindo dos direitos que esta concede às organizações que credita como tais?

- É ou não injustiça, declarar-se a favor da neutralidade e depois o Corpo Governante autorizar o investir em armamento?

- É ou não uma injustiça, desassociar pessoas pelo uso do tabaco e depois o Corpo Governante autorizar investir na indústria tabaqueira?

- É ou não uma injustiça, permitir que pedófilos continuem a sua predação sem serem entregues à justiça, só porque o Corpo Governante acha que deve manter uma política que se revela desastrosa para o bem-estar das crianças no seu seio e um paraíso para pedófilos?

- É ou não uma injustiça, que face a uma enorme crise, o Corpo Governante imponha às congregações uma espécie de dízimo, obrigando estas a envio regular de uma contribuição? 

- É ou não uma injustiça, que achando o fim tão próximo, continue empenhada em projectos de construção megalómanos? 

- É ou não uma injustiça, que se altere a teologia só para reforçar a autoridade do Corpo Governante, que é agora considerado como sendo “o escravo fiel e discreto”? 

- É ou não uma injustiça, que o Corpo Governante condene a “educação superior”, quando beneficia da mesma, quer pela tecnologia que usa, quer pelo progresso médico? 

- É ou não uma injustiça, o título de “Corpo Governante”, quando o próprio Jesus o condenou? Veja Mateus 20:25, 26 

Se existe hoje quem se possa colocar no papel de Corá, Datã e Abirão, terá de ser o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, que vai muito mais longe do que estes foram e se quer colocar no lugar do próprio Cristo, subtraindo a este a liderança da Congregação! Afinal as Testemunhas de Jeová sinceras, estão a seguir a Deus ou a homens? Jesus bem disse: “É em vão que persistem em adorar-me, porque ensinam por doutrinas os mandados de homens.” (Mateus 15:9)

sábado, 1 de março de 2014

Ovelhas Perdidas



Jesus conta uma tocante ilustração sobre a necessidade de recuperar as ovelhas perdidas aqui em Lucas 15:4 a 7: 

3 Então lhes contou a seguinte ilustração, dizendo: 4 “Que homem dentre vós, com cem ovelhas, perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove atrás no ermo e vai em busca da perdida, até a achar? 5 E quando a tiver achado, ele a põe sobre os seus ombros e se alegra. 6 E, ao chegar à casa, convoca seus amigos e seus vizinhos, dizendo-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que estava perdida.’ 7 Eu vos digo que assim haverá mais alegria no céu por causa de um pecador que se arrepende, do que por causa de noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.


O que teria Jesus na ideia ao dizer estas palavras? Tratar-se-ía de ovelhas fora do redil judaico, que eventualmente haviam deixado de adorar do modo correcto? Precisariam de novo voltar ao templo? Seriam irregulares no sábado na sinagoga?

Jesus confessou que tinha vindo às ovelhas perdidas de Israel. (Mt 10:6; Mt 15:24) Portanto muito mais tarde ele insta que se procurem estas ovelhas (Mt 18:12) E em que sentido andavam as ovelhas perdidas? (Mt 9:36) As classes dos escribas e dos fariseus tinham um ensino legalista em detrimento de um humanismo essencial e necessário. Jesus condenou diversas vezes esta posição legalista, como foi por exemplo o caso do homem com a mão ressequida curado no sábado (Mt 12:10), ou até mesmo como aquela mulher que violou a Lei no intuito de ser milagrosamente curada (Mt 9:20). Mais tarde Jesus denuncia claramente a situação no capítulo 23 de Mateus, aquele onde não se coíbe de chamar os hipócritas enquanto tal.

Dá ideia então que o ir à procura das ovelhas perdidas naquele tempo, não era arrebanhar pessoas num qualquer outro “redil” organizacional alternativo ao vigente. Jesus foi claro, quando disse que não tinha vindo para destruir mas para cumprir (Mateus 5:17),  para salvar. Considerando o contexto da época, em que a forma de adoração praticada no Templo era a certa do ponto de vista de Deus quanto ao formalismo, mas não no espírito. Era isso que era urgente para Jesus recuperar! A religião tinha uma função humanista, devendo ser uma fonte de felicidade e não o contrário, vergando os homens a um cumprimento penoso e cego da Lei (Mr 2:27; Mt 23:23)

Na passagem de Lucas 15:4-7 com que começamos, Jesus não podia estar a convidar pessoas a ingressar numa Organização, afinal o judaísmo ainda estava de pé e a sua pregação procurava salvá-lo de uma condição legalista para uma condição onde as pessoas individualmente contassem e fossem tratadas com dignidade.

O contexto nos versículos anteriores deixa claro que Jesus diz essas palavras a quem julgava que havia pessoas além de qualquer redenção. Homens que julgavam que comer uma refeição com pecadores era errado, pessoas com quem não se devia conviver. Não soa familiar? Não há uma organização que acha como os velhos escribas e fariseus que o que é necessário aos pecadores esclarecidos é que sejam ostracizados da forma mais severa? Que tais pecadores, como dizem “impenitentes” sejam lançados “fora” do redil ao invés de cuidados ternamente de se ir à procura da “ovelha perdida”, até perceberem que o seu caminho não é o melhor, para eles mesmos? Mas qual quê, é preferível que nem a família os considere, como se estivessem já mortos e enterrados! Que se negue o contacto do pai ao filho e da filha à mãe.     

Citam igualmente a passagem aqui em João 21:15-17, quando Jesus insistiu com Pedro que cuidasse das suas “ovelhinhas”. Mais uma vez querem passara a ideia que isso implica manter ovelhas num qualquer redil. Há contudo uma pergunta básica: Quem são as “ovelhinhas” de Jesus? Se ele morreu por todos, todos são potenciais ovelhas que se podem beneficiar do seu sacrifício.

De igual forma aqui, a questão não era levar as pessoas para uma organização, mas o cuidar delas enquanto pessoas, da sua felicidade.


Apascentar” não é feito num redil! Obriga o pastor a ir junto com as ovelhas e a indicar-lhes onde os pastos são melhores, um em que se sintam satisfeitas. Não é uma posição semelhante a contar cabeças num curral, para ver quem tem mais. E é apenas nisso que as religiões estão interessadas, em contar cabeças e quanto mais domesticadas melhor. Aliás é curioso que ao invés de imitar o pastor que deu a sua vida pelas ovelhinhas, estas prefiram imitar o velho modelo de as queimarem no altar...

Os Jardineiros de Ilusões



Muitos, quando se chega a idade da reforma ou apenas com um fito terapêutico que a vida moderna é plena de stress, dedicam-se à jardinagem. Tal actividade produz algum prazer, algum bem-estar para quem a ela se dedica e ao mesmo tempo pode proporcionar prazer e bem-estar a quem observa o resultado. Nenhum de nós é insensível à beleza das flores, ou tão só ao seu perfume.

É importante considerar que a dedicação à jardinagem não constitui uma actividade essencial que satisfaça ou sirva de complemento a alguma actividade que sirva para satisfazer uma necessidade básica ou que se constitua como complemento de uma que assegure a sobrevivência da espécie. A jardinagem claramente não é uma dessas actividades, ao contrário por exemplo da horticultura.

Não é que a jardinagem não contribua para uma vida mais agradável, mas o facto é que se vive mesmo sem ela. Outras actividades humanas seguem este padrão, de não se constituírem como actividades essências da existência, mas mesmo assim acrescentando bem-estar e qualidade de vida. A vida seria mais pobre e muito mais básica sem jardins. Também seria mais pobre, sem música, sem literatura, sem cinema, sem teatro, sem pintura, sem escultura, etc.

Mas uma outra actividade que se pode comparar a essas e que nos pode passar despercebida no imediato é a religião.

Os jardineiros são pessoas que amam o belo, sentimentos elevados que lhes conferem um senso de realização e paz. Os jardineiros são regra geral, pessoas calmas, elas sabem que os resultados dos seus labores precisam de tempo para se apreciarem. O jardineiro é apenas um colaborador de uma força maior, que faz com que as plantas cresçam e floresçam. Mas o jardineiro não controla essa força, é subjugado por ela. O jardineiro é ao mesmo tempo uma pessoa de paixões tranquilas pois, pelo menos alguns deles, dedicam-se às vezes em exclusivo a uma planta. Uns dedicam-se às orquídeas, outros às rosas, por exemplo. O jardineiro sabe que o tempo é um bem precioso e que por isso precisam de o dedicar a um só amor.

Mas depois, há os que não sendo jardineiros, são buscadores de oportunidades e que sabem bem aproveitar-se das paixões dos outros. Se a rosa criada pelo jardineiro dedicado atrai as multidões, eles estão prontos a facturar cavalgando o bem alheio. São os que têm o dom de ver todo o prazer convertido num ganho!

São estes mesmos que no campo religioso saltam do plano ideológico para o campo organizativo. Para eles não basta a beleza de reinterpretar a espiritualidade, o que os faz delirar é possibilidade de mandarem no próximo, de o dominarem como propriedade sua, de lucrarem com ele. São os que ao invés de sonhar alto, sonham e acabam a concretizar organizações, regras e hierarquias. Mesmo que apregoem a igualdade, o que têm em mente é igualdade da obediência aos seus dislates.

Eles parasitam os sonhos e a criação e a beleza que outros descobrem. Com isso matam os sonhos, impedem a criação e transformam o belo numa caricatura horrenda.

Depois há os passivos incapazes, que nunca deitaram uma semente à terra para ver o que nasce. São os espectadores cegos, que precisam que os conduzam, que lhe indiquem o que é belo, para que apáticos de boca aberta alguém lhes diga que é aquela rosa a que devem admirar. São estes que reclamam, quando se lhes tira a flor da frente, mesmo que esta já tenha murchado e cheire mal. São os que perguntam se não há outra flor para substituir aquela, pois são incapazes de cultivar uma por si mesmos. No campo da religião, são os mesmos que se perguntam quando se lhes mostra que a sua flor feneceu: Mas que flor oferecem vocês?


A verdade não é uma flor, é o que é. Mas se fosse seria uma rosa, porque tem espinhos, e às vezes magoa.

Você Fará Sacrifícios Pelo Reino?



Estes exercícios de auto-referenciação viciaram-me. Cá vai portanto, os comentários para o artigo com o tema em epígrafe, em A Sentinela! de 15 de dezembro. Não se esqueçam que podem procurá-la aqui http://www.jw.org

Têm de me desculpar, comentar um pouco menos, mas os artigos são de uma pobreza intelectual e exegética que até dá dó. Nota-se nestes últimos artigos, o medo que ataca o Corpo Governante, a cúpula do movimento das Testemunhas de Jeová, e que estabelece a teologia e as regras que os seguidores devem aceitar. Apesar de parecer, pela leitura das publicações, que tudo se trata de voluntarismo por parte dos súbditos, isso é bastante ilusório, pois existe uma vigilância apertada nas congregações que denunciam todo o comportamento desviante. Os membros podem mesmo vir a ser expulsos por falhas na aceitação da teologia e/ou regras. Este é um assunto sério entre eles, porque os membros não podem ter qualquer contacto com aqueles que são expulsos. Recentemente um rapaz, pai de filhos, foi expulso e acabou por se suicidar. Certamente o facto de não poder contactar com os membros da sua família, deve ter contribuído para este acto desesperado [1]. Mas não será por isso que o Corpo Governante alterará as suas regras humanas, ensinando mandados de homens como se de Deus se tratassem [2].

Passemos então aos comentários aos diversos parágrafos do artigo de estudo. Não comentaremos todos os parágrafos como já dissemos.

Parágrafo 1
O Reino era a coisa mais importante na sua vida.
Comentário
Confunde-se sempre o Reino com a Organização. É uma confusão propositada e alimentada, isso é notório em todo o artigo.

Parágrafo 2
...a obra de pregação está avançando...
Comentário
Por acaso esta afirmação não é verdadeira. A fazer fé nos números a obra está a estagnar. E nem é de agora. Para mais pormenores sigam a ligação: http://www.jwfacts.com/watchtower/statistics.php

Parágrafo 2
...ele é vital para os interesses do Reino.
Comentário segundo
A questão devia ser um pouco mais esta: Se acabar a Organização, acaba o Reino? Parece-me que não, se é que alguma lição se pode tirar da destruição do Templo em Jerusalém em 70 EC.

Parágrafo 3
Todos nós, porém, devemos fazer uma auto-análise.
Comentário
Quem devia fazer uma auto-análise era o Corpo Governante. Este apenas quer assegurar que continuará a ter sentido a sua existência, mesmo que a sua teologia tenha de sofrer uma esforçada torção. Muitas delas dão mesmo uma volta de 180º.

Parágrafo 3
Será que podemos fazer mais sacrifícios pelo Reino? Como estamos usando nosso tempo, dinheiro, energia e habilidades? Que cuidado devemos ter?
Comentário segundo
Estão a ver como a confusão entre Reino e Organização é forçada? Mas as perguntas que o Corpo Governante devia fazer era: Porque estão os publicadores a desanimar? Porque cada vez o movimento atrai menos pessoas? Será que isso se dá porque as tretas são demasiado evidentes?
Não despercebam que a Organização está a demandar tudo dos seus súbditos: tempo, dinheiro, energia e habilidades! Se censuram a IURD por esmifrar os seus devotos, deviam olhar-se ao espelho e ver que não esmifram menos.

Parágrafo 3
...sacrifícios voluntários, o que aumentará nossa alegria.
Comentário terceiro
Aqui vem-me à lembrança um livro [3] em que o autor diz que em dadas circunstâncias, em especial quando não há alternativas, nós humanos fazemos a síntese da felicidade. Ou seja, uma situação que não é nada feliz, é interpretada e sentida como produtora de felicidade. Um pouco como uma pessoa com uma unha encravada e na impossibilidade de resolver o problema diga: “A principio custava-me, mas agora entendo que esse é o modo que a natureza escolheu, portanto sinto-me feliz por estar a experimentar em primeira mão, um fenómeno natural.” A dor está lá, mas a leitura que se faz dela é outra. As Testemunhas de Jeová quando contam as suas “experiências” fazem isto muitas vezes.

Parágrafo 4
Os sacrifícios eram necessários para que o povo tivesse o favor de Jeová.
Comentário
Consegue apanhar o paralelo que é possível fazer com as idas a pé a Fátima?
No fundo trata-se do velho negócio religioso de barganhar com Deus: Se eu te fizer isto, tu dás-me aquilo.
Um bocado infantil, não acham? Não consigo imaginar Deus a negociar assim... Mas ao que parece o Corpo Governante acha perfeitamente plausível.

Parágrafo 5
...até mesmo os pobres podem fazer sacrifícios...
Comentário
Infelizmente os pobres são sempre sacrificados. Para além de explorados e daí serem pobres, são também enganados por espertalhões interessados em tirar-lhes o pouco que ainda têm.

Parágrafo 6
...animal...um sacrifício...
Comentário
É preciso ainda encarar o facto de que sacrifícios animais, são um barbarismo, mesmo que isso seja uma ordem de Deus. Eu acho que é um aproveitamento de uma velha tradição, por parte de Deus e não propriamente uma invenção ou ordem Deste. Mas admito que isto é uma interpretação não exegética.

Parágrafo 6
Jeová especificou que, se alguém numa condição impura oferecesse um sacrifício de participação em comum, o que incluía ofertas voluntárias, ele seria decepado do povo de Deus.
Comentário segundo
Devemos perguntar o que pensará Jeová de uma Organização que abriga pedófilos no seu seio?

 Parágrafo 7
...construção de Salões do Reino...
Comentário
Estas construções apenas aumentam o património imobiliário da Organização! Os Salões embora mantidos localmente, não são propriedade da congregação ou congregações locais. Aliás, a Organização vê com algumas reticências qualquer Salão que não seja ou não possa tornar-se propriedade sua. Para quem acha que o fim está próximo, a sua ânsia de se tornar proprietária é deveras curiosa.
Aliás é interessante considerar quantas sinagogas construiu Jesus, ou quantos edifícios de reunião construíram os primeiros cristãos. Ao que parece, e contrário à Organização, os cristãos reuniam-se em casas particulares. Só depois na apostasia é que começaram a construir igrejas. Querem ver que o Corpo Governante também está contaminado com apostasia?!

Parágrafo 9
...não tinham muito tempo e deviam aproveitá-lo ao máximo para cuidar das coisas importantes.
Comentário
Aqui nota-se que o mais importante para o Corpo Governante é manter a máquina a rolar! A mensagem é: não percam tempo com o que vos faz felizes, que a vossa felicidade é sacrificarem-se pela Organização!

Parágrafo 10
...dezenas de milhões de dólares são usados par cuidar dos gastos com superintendentes viajantes, pioneiros especiais e missionários.
Comentário
Os aqui mencionados são os funcionários teocráticos que a Organização inventou para manter a máquina em movimento, numa cadeia hierárquica bem definida, e que claramente contraria a ideia de uma organização sem classes, como costumam dizer sem clérigos nem leigos. O que é certo é que têm estes “profissionais”.
E se gastam dinheiro com eles, acho bem estranho como isso tem base bíblica, pois pelo que sei Paulo como missionário não consta que recebesse, nem qualquer outro!

Parágrafo 11
Jeová se agrada muito dessa disposição.
Comentário
O contexto mostra que os membros deviam juntar dinheiro para entregar depois na congregação. E concluem com essa frase. Mas o que me intriga, porque há-de Jeová agradar-se com essa disposição? Acaso recebe por transferência bancária?

Parágrafo 12
Ele promete nos ajudar quando nos sentimos cansados.
Comentário
O que se quer dizer é que ninguém tem desculpa e nem pensem dizer que estão cansados! Isso é apenas uma fraca desculpa para não dar, para se recusar ao sacrifício.
E tem mais, reparem bem na subtileza, se ficarem encrencados não venham à Organização pedir ajuda, aí quem dá é Jeová! Mas o dinheiro foi para quem mesmo? Não são mesmo muito diferentes dos católicos ou da IURD, pois não?

Parágrafo 15
...por isso trabalhavam na construção durante o dia e, à noite, iam para os campos plantar. Um excelente exemplo de sacrifícios a favor do Reino! Isso nos faz lembrar os irmãos da Macedónia, no primeiro século. Eles viviam em extrema “pobreza”, mas ainda assim rogavam pelo privilégio de participar...
Comentário
A comparação é perversa: num caso o único beneficiado materialmente é a Organização, no primeiro século tratava-se de ajudar materialmente pessoas carentes, não qualquer organização teocrática existente.
Os aspectos de ajuda humanitária são um aspecto sempre secundário para a Organização!

Parágrafo 15
Que cada um de nós também 'dê de modo proporcional à bênção que Jeová nos tem dado'.
Comentário
Parecemos a IURD!

Parágrafo 16
Precisamos manter o equilíbrio ao cuidarmos das nossas principais responsabilidades, ou seja, as familiares e as espirituais.
Comentário
Depois de citarem o exemplo de cristãos que de dia trabalharam na construção de um Salão e de noite iam cuidar dos seus campos, como podem vir com esta hipocrisia de “manter o equilíbrio”? Que equilíbrio há em trabalhar noite e dia?

Parágrafo 18
...participar o máximo possível...
Comentário
No parágrafo 16 falavam de equilíbrio, ainda se lembram?


Talvez pense que caricaturo em demasia, nos comentários que faço. Admito que possam ter alguma razão. Mas esta caricatura é necessária para trazer à evidência o que precisa ser evidenciado. Presumo que para as Testemunhas de Jeová sinceras poderá parecer chocante, mas isso é apenas porque tal como Paulo depois da cegueira do deslumbramento as escamas têm de cair dos olhos, aqui claramente olhos de entendimento. O exercício pode ser doloroso, mas como se diz: A verdade dói!




[2] Marcos 7:7 “É em vão que persistem em adorar-me, porque ensinam por doutrinas os mandados de homens.”

[3] “Stumbling on Hapiness” de Daniel Gilbert

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A dúvida na espiritualidade



Muitos dos apologistas das Testemunhas de Jeová que intervêm em fóruns e blogues, costumam acusar os pretensos apóstatas como vazios de ideias e destruidores de esperanças exegeticamente legítimas. Acusam-nos de apenas serem capazes de lançar dúvidas, de destruírem e nunca construírem.

Contudo partem sempre de um pressuposto que fica sempre por provar, que é: A verdade é propriedade das Testemunhas de Jeová! Ou seja, acham que a teologia que defendem é de todas as mais certa. Para além de revelar uma presunção e arrogância que só pode ser defendida com base na fé, carece de uma confirmação, mesmo que nos terrenos da exegese bíblica, sem extravasar para outras considerações igualmente oportunas. 

O que esse tipo de declarações parece ignorar sem grande reflexão adicional, é a importância da dúvida na construção da fé. [1] Se recuarmos aos primórdios do movimento e ao seu fundador Charles Taze Russell [2] este foi apenas porque nutriu dúvidas, sobre as crenças que tinha sobre Deus e seu propósito que foi levado a um estudo das Escrituras. Foi esta busca que mais tarde veio a resultar numa interpretação diferenciada das demais e originar a actual organização das Testemunhas de Jeová, tão empenhada no proselitismo. 

Mesmo as suas mudanças em relação aquilo que consideram teologia ortodoxa, implica que pelo menos o Corpo Governante, autoridade máxima no seu seio, tenham dúvidas. Se apenas tivessem certezas, que necessidade haveria de anunciar “novas luzes” ou “novos entendimentos”? Perante a dúvida podemos reagir de uma maneira construtiva, que é analisar a questão e tirar conclusões. Ou reagir negativamente, defendendo irracionalmente uma posição, tornando-se dogmático. Quanto maior a dúvida maior o dogmatismo, como se a defesa intransigente transformasse magicamente uma dúvida numa certeza. Tal postura não pode ser confundida com fé, ou como alguns gostam de dizer “inabalável fé”. Porque a fé não é uma crença cega ou irracional, pelo menos conforme a Bíblia a define em Hebreus 11:1: “ A fé+ é a expectativa certa* de coisas esperadas,+ a demonstração evidente* de realidades,* embora não observadas.+” 

A fé exige uma postura racional, senão como pode ser uma “expectativa certa”? Para estar “certa” é preciso confirmá-la, avaliá-la, ponderá-la. Como pode haver “demonstração evidente”, sem ser analisando os diversos passos da “demonstração”? Poderíamos comparar a fé à hipótese científica. Esta ainda não tem confirmação, mas procura uma interpretação para um conjunto de observações e extrapola para acontecimentos que devem esperar ser observados no contexto da sua interpretação. De nenhuma forma pode ser confundida com dogmatismo. Mas certamente a fé pode alocar a dúvida na sua construção. 

Como se pode buscar a Deus, se tem a convicção de O conhecer já? Como se pode julgar conhece-Lo, quando somos criaturas de pó? Como podemos sequer concebê-Lo se nós estamos no domínio material e Ele no domínio espiritual, uma realidade que não nos é acessível? Como é que sendo seres finitos, podemos entender um ser infinito? É preciso aceitar como válida a ideia de que Deus se pode revelar de muitas maneiras e que algumas delas, nos sejam de momento absolutamente desconhecidas. Se é assim, porque não a dúvida? Esse motor de toda a busca. 

Quem não tem dúvidas deixou de buscar a Deus. E quem deixa de buscar a Deus, está condenado a perdê-Lo, a acabar sem Deus. Encontrará na sua insegurança um sucedâneo, mas nunca alcançará a realidade Dele. Pior ainda, nem sequer se aproxima Dele, mas afasta-se. 

Jesus na sua renovada visão do Deus Antigo, provou que esta busca nunca pára, não se pode estacionar numa posição. Estacionar é perdê-Lo. Portanto o que esses apologistas das testemunhas parecem ignorar é que não há fé, nem Deus, sem dúvidas que a confirmem e estimulem a busca Dele. 

Afinal o que o levou a converter-se ao movimento? Não foram as suas dúvidas, a sua busca por Deus, a sua necessidade espiritual? A menos que seja filho de Testemunhas de Jeová e as suas crenças resultem mais de imposição do que de uma busca espiritual pessoal. Portanto se agora está convencido da 'verdade' conforme defendida pelo movimento, lembro-o que o que o trouxe a ele foi precisamente a dúvida. Duvidar não é mau, trouxe-o à 'verdade'. Porque é que agora que pensa tê-la encontrado, ele se torna má? E se se tornou, como pode ter a certeza que a transformação da dúvida numa coisa má se deu depois que entrou no movimento e não estará mais à frente? Ou seja qual é afinal o critério que determina quando a dúvida é má ou é boa? 

Os apóstatas estão afinal a fazer-lhes um favor, promovendo a sua espiritualidade, que deve ser afinal o objectivo de todo o crente. Eles estão a ajudá-lo a progredir espiritualmente. Aceite a dúvida sobre assuntos teocráticos, procure esclarecer-se e com isso estará na busca de Deus, estará no percurso mais espiritual que podia desejar.


[1] http://www.ted.com/talks/lesley_hazleton_the_doubt_essential_to_faith.html
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Taze_Russell

Evite ser 'demovido depressa de sua razão'



Já o fizemos anteriormente e voltamos de novo à carga, fazendo uma análise do conteúdo de A Sentinela de estudo de 15 de Dezembro, disponibilizada gratuitamente no site www.jw.org. Tratam-se de considerações breves do primeiro artigo de estudo com o tema acima mencionado. O formato da nossa abordagem será o mesmo, citamos o parágrafo na parte que nos interessa destacar e de seguida o nosso comentário.


Parágrafo 1, 2 ...
sob influência do Diabo recorrem cada vez mais ao engano,
Comentário Este medo é um bocado descabido para quem afirma ter tanta fé em Deus e em vista do que diz em 2 Coríntios 13:8: “Pois, não podemos fazer nada contra a verdade, mas somente a favor da verdade.” Se assim é, não percebo tanto medo, tanta cautela e tanto aviso. Quem pode ter razões para temer é que recorre ao engano. Será que... 

Parágrafo 4 .
..aguardamos a destruição de Babilônia, a Grande, o império mundial da religião falsa.
Comentário Passam este ano 100 anos desde a pretensa entronização do Cristo nos céus em 1914. Todas as explicações para a duração da geração que tinha presenciado o acontecimento com os olhos do entendimento se esgotaram. A última invenção é que a “geração” se refere aos ungidos e ainda há-de haver “ungidos” quando o fim vier. O que acredito, até porque tem vindo a aparecer cada vez mais “ungidos”! Se este conceito num ponto tão fundamental quanto o entendimento do que é esta “geração”, varia tanto, que confiança podemos ter em qualquer outra interpretação provinda da Organização? Aliás 1914 já foi interpretado por esta como o tempo do fim e não como o início do fim. [1] Os malabarismos teológicos da Organização são sempre surpreendentes. 

Parágrafo 4
...por meio da congregação...
Comentário segundo
Visto que é nestas que as pessoas são endoutrinadas nos conceitos da Organização.

Parágrafo 4
Dar atenção a esses alertas frequentes pode fortalecer nossa determinação de prestar a Deus 'um serviço sagrado com nossa faculdade de raciocínio.' - Rom. 12:1
Comentário terceiro
Será servir a Deus ou à Organização? E reparem que o texto menciona 'faculdade de raciocínio'. Que raciocínio haverá ao aceitar sem questionar tudo o que a Organização debita? Ora como vimos no primeiro comentário eles não são de confiança, tendo vindo com o tempo a alterar o que antes defendiam com convicção. Já Jesus dizia que se um cego guiar outro cego, ambos cairiam numa cova. Com isso Jesus quis dizer que nunca devemos entrar em “seguidimos” cegos. 

Parágrafo 5
...alguns na congregação haviam ficado “provocados”, ou perturbados, achando que o dia de Jeová estava prestes a chegar. (Leia 2 Tessalonicenses 2:1, 2)
Comentário
Mas não é precisamente isto que faz a Organização? Não estão sempre a provocar as congregações “achando que o dia de Jeová” está prestes a chegar? Ou estão agora a começar uma retirada estratégica, para nos dizer que não devemos especular, como se toda esta ansiedade pela chegada do dia tivesse sido cultivada de moto próprio pelos publicadores! Quando é que finalmente os iluminados do Corpo Governante assumem que não sabem interpretar adequadamente a Bíblia, pelo menos de modo a que possam impor a sua visão a quem quer que seja? 

Parágrafo 6 
Até que ponto eu amo a verdade? Estou em dia com o entendimento actual fornecido por esta revista e outras publicações baseadas na Bíblia, que são preparadas para a congregação mundial do povo de Deus.
Comentário 
Isto é uma afirmação perversa! Parte da assumpção não provada de que sempre nos dizem a verdade, equiparando o que escrevem à autoridade da Bíblia! Na nota do parágrafo fala que no decorrer da história a apostasia produziu classes, clérigos e leigos. Bom, a Organização e o seu Corpo Governante, produziu governantes e governados. 

Parágrafo 7 
“o amor ao dinheiro é raiz de toda sorte de coisas prejudiciais.” 
Comentário 
Pois, mas e então os investimentos que o Corpo Governante faz, inserem-se em que contexto? Não será neste? Afinal faz sentido uma organização que condena o uso do tabaco e não toma partido nas guerras investir nessas áreas? [2] 

Parágrafo 8 
...havia homens que falavam “coisas deturpadas, para atrair a si os discípulos.”(2 Cor. 11:4, 13; Atos 20:30)
Comentário 
Mas afinal quem é que fala de coisas que nem sequer estão na Bíblia como se estivessem e são por isso mesmo “desordeiros”? Sim a Bíblia não fala sobre vacinas, sobre o ano de 1914, ou sobre a existência de um Corpo Governante, ou fala? E contrário ao que às vezes se faz parecer querer, os que denunciam as falhas teológicas da Organização, não estão na sua larga maioria buscando fazer “discípulos”! Quem os quer fazer a toda a força é mesmo a Organização e para isso tanto insiste na necessidade de uma pregação feita com carácter de urgência, como se o mundo fosse acabar amanhã. Portanto se a alguém se há-de aplicar a Escritura sobre “coisas deturpadas para atrair discípulos” ela parece aplicar-se com perfeição à Organização. 

Parágrafo 8 
Aqueles efésios 'puseram à prova' pessoas que na realidade eram falso apóstolos, homens mentirosos. (Rev. 2:2) 
Comentário 
Então porque não se poderá por à prova o Corpo Governante? O que tem para temer? ~

Parágrafo 9 
...devemos ficar alertas caso alguém que assiste às nossas reuniões na congregação tente nos envolver em conversas que giram em torno de críticas ou de especulações pessoais.
- 2 Tes. 3:13-15 
Comentário 
Espero que tenham a noção de que isso envolve o que vem em A Sentinela! Ou os únicos autorizados a fazerem críticas e terem especulações pessoais são os velhos de Brooklyn sentados como Corpo Governante? 

Parágrafo 10 
...tradições 
Comentário 
Esta defesa das “tradições” é nova e leva a Organização para fora do conceito de sola scriptura, tão querido desde Lutero à interpretação protestante. Será que o Corpo Governante está a fazer uma inflexão ao catolicismo? 

Parágrafo 10 
...promovidas como se tivessem o mesmo valor dos ensinamentos das Escrituras. 
Comentário 
Mas será que o Corpo Governante não se enxerga, não tem um espelho diante de si, quando escreve estas coisas? De facto o Corpo Governante puxou para si a competência de emanar ensinamentos com o mesmo valor dos que estão nas Escrituras! Pois, como pode desassociar alguém por apostasia, se não é assim? 

Parágrafo 13 
A predita apostasia se revelou muito tempo atrás e continua até hoje. 
Comentário 
E então porque a Torre, a Organização, o Corpo Governante não podem ser um reflexo dessa apostasia? Só porque juram que não? Lembram-se, que os efésios puseram à prova? Devemos fazer o mesmo ao que nos quer ensinar o Corpo Governante. No mínimo é da mais elementar justiça. 

Parágrafo 14 
Para cumprirmos essa comissão, precisamos ser zelosos no ministério. 
Comentário 
A única coisa que parece realmente importante para o Corpo Governante é manter a Organização a funcionar e sem discípulos ela pára. 

Parágrafo 15 
...a adoração em familia servirá de protecção contra especulações e dúvidas. 
Comentário 
Ou seja, é preciso que a família sirva como complemento da Organização em manter todos igualmente cegos e surdos. Nada de questionar a sabedoria do Corpo Governante, que nestas coisas tem um canal directo com Deus. A qualidade do 'espírito santo' canalizada para estes deve ser de primeira, enquanto para os restantes é rasquido. Nem se apercebem como desenham um Deus execrável... 

Parágrafo 16 
Os ungidos têm a perspectiva de se unir com Cristo no céu. 

Comentário Aqui convém que se esclareça em que sentido! Estes “ungidos” não podem ser o “escravo fiel e discreto” agora de uso exclusivo pelo Corpo Governante. Afinal que sentido tem falar em “ungidos”?


Quando estudarem A Sentinela! nunca esqueçam que sempre têm de fazer um exercício de auto-referenciação. Ou seja, o que o Corpo Governante aplicar aos outros tem de em primeiro lugar aplicar a si mesmo. Vai ver que é um exercício interessante e esclarecedor.

[1] Veja o livro Proclamadores
[2] http://www.jwfacts.com/watchtower/politics.php#commercial