Estes exercícios de auto-referenciação viciaram-me. Cá vai
portanto, os comentários para o artigo com o tema em epígrafe, em A Sentinela!
de 15 de dezembro. Não se esqueçam que podem procurá-la aqui http://www.jw.org
Têm de me desculpar, comentar um pouco menos, mas os artigos
são de uma pobreza intelectual e exegética que até dá dó. Nota-se nestes
últimos artigos, o medo que ataca o Corpo Governante, a cúpula do movimento das
Testemunhas de Jeová, e que estabelece a teologia e as regras que os seguidores
devem aceitar. Apesar de parecer, pela leitura das publicações, que tudo se trata
de voluntarismo por parte dos súbditos, isso é bastante ilusório, pois existe
uma vigilância apertada nas congregações que denunciam todo o comportamento
desviante. Os membros podem mesmo vir a ser expulsos por falhas na aceitação da
teologia e/ou regras. Este é um assunto sério entre eles, porque os membros não
podem ter qualquer contacto com aqueles que são expulsos. Recentemente um
rapaz, pai de filhos, foi expulso e acabou por se suicidar. Certamente o facto
de não poder contactar com os membros da sua família, deve ter contribuído para
este acto desesperado [1]. Mas não será por isso que o Corpo Governante alterará
as suas regras humanas, ensinando mandados de homens como se de Deus se tratassem
[2].
Passemos então aos comentários aos diversos parágrafos do artigo de estudo. Não comentaremos todos os parágrafos como já dissemos.
Parágrafo 1
O Reino era a coisa mais importante na sua vida.
Comentário
Confunde-se sempre o Reino com a Organização. É uma confusão
propositada e alimentada, isso é notório em todo o artigo.
Parágrafo 2
...a obra de pregação está avançando...
Comentário
Por acaso esta afirmação não é verdadeira. A fazer fé nos
números a obra está a estagnar. E nem é de agora. Para mais pormenores sigam a
ligação: http://www.jwfacts.com/watchtower/statistics.php
Parágrafo 2
...ele é vital para os interesses do Reino.
Comentário segundo
A questão devia ser um pouco mais esta: Se acabar a
Organização, acaba o Reino? Parece-me que não, se é que alguma lição se pode
tirar da destruição do Templo em Jerusalém em 70 EC.
Parágrafo 3
Todos nós, porém, devemos fazer uma auto-análise.
Comentário
Quem devia fazer uma auto-análise era o Corpo Governante.
Este apenas quer assegurar que continuará a ter sentido a sua existência, mesmo
que a sua teologia tenha de sofrer uma esforçada torção. Muitas delas dão mesmo
uma volta de 180º.
Parágrafo 3
Será que podemos fazer mais sacrifícios pelo Reino? Como
estamos usando nosso tempo, dinheiro, energia e habilidades? Que cuidado
devemos ter?
Comentário segundo
Estão a ver como a confusão entre Reino e Organização é
forçada? Mas as perguntas que o Corpo Governante devia fazer era: Porque estão
os publicadores a desanimar? Porque cada vez o movimento atrai menos pessoas?
Será que isso se dá porque as tretas são demasiado evidentes?
Não despercebam que a Organização está a demandar tudo dos
seus súbditos: tempo, dinheiro, energia e habilidades! Se censuram a IURD por
esmifrar os seus devotos, deviam olhar-se ao espelho e ver que não esmifram
menos.
Parágrafo 3
...sacrifícios voluntários, o que aumentará nossa alegria.
Comentário terceiro
Aqui vem-me à lembrança um livro [3] em que o autor diz que
em dadas circunstâncias, em especial quando não há alternativas, nós humanos
fazemos a síntese da felicidade. Ou seja, uma situação que não é nada feliz, é
interpretada e sentida como produtora de felicidade. Um pouco como uma pessoa
com uma unha encravada e na impossibilidade de resolver o problema diga: “A
principio custava-me, mas agora entendo que esse é o modo que a natureza
escolheu, portanto sinto-me feliz por estar a experimentar em primeira mão, um
fenómeno natural.” A dor está lá, mas a leitura que se faz dela é outra. As
Testemunhas de Jeová quando contam as suas “experiências” fazem isto muitas
vezes.
Parágrafo 4
Os sacrifícios eram necessários para que o povo tivesse o
favor de Jeová.
Comentário
Consegue apanhar o paralelo que é possível fazer com as idas
a pé a Fátima?
No fundo trata-se do velho negócio religioso de barganhar
com Deus: Se eu te fizer isto, tu dás-me aquilo.
Um bocado infantil, não acham? Não consigo imaginar Deus a
negociar assim... Mas ao que parece o Corpo Governante acha perfeitamente
plausível.
Parágrafo 5
...até mesmo os pobres podem fazer sacrifícios...
Comentário
Infelizmente os pobres são sempre sacrificados. Para além de
explorados e daí serem pobres, são também enganados por espertalhões
interessados em tirar-lhes o pouco que ainda têm.
Parágrafo 6
...animal...um sacrifício...
Comentário
É preciso ainda encarar o facto de que sacrifícios animais,
são um barbarismo, mesmo que isso seja uma ordem de Deus. Eu acho que é um
aproveitamento de uma velha tradição, por parte de Deus e não propriamente uma
invenção ou ordem Deste. Mas admito que isto é uma interpretação não exegética.
Parágrafo 6
Jeová especificou que, se alguém numa condição impura
oferecesse um sacrifício de participação em comum, o que incluía ofertas
voluntárias, ele seria decepado do povo de Deus.
Comentário segundo
Devemos perguntar o que pensará Jeová de uma Organização que
abriga pedófilos no seu seio?
Parágrafo 7
...construção de Salões do Reino...
Comentário
Estas construções apenas aumentam o património imobiliário
da Organização! Os Salões embora mantidos localmente, não são propriedade da
congregação ou congregações locais. Aliás, a Organização vê com algumas reticências
qualquer Salão que não seja ou não possa tornar-se propriedade sua. Para quem
acha que o fim está próximo, a sua ânsia de se tornar proprietária é deveras
curiosa.
Aliás é interessante considerar quantas sinagogas construiu
Jesus, ou quantos edifícios de reunião construíram os primeiros cristãos. Ao
que parece, e contrário à Organização, os cristãos reuniam-se em casas
particulares. Só depois na apostasia é que começaram a construir igrejas.
Querem ver que o Corpo Governante também está contaminado com apostasia?!
Parágrafo 9
...não tinham muito tempo e deviam aproveitá-lo ao máximo
para cuidar das coisas importantes.
Comentário
Aqui nota-se que o mais importante para o Corpo Governante é
manter a máquina a rolar! A mensagem é: não percam tempo com o que vos faz
felizes, que a vossa felicidade é sacrificarem-se pela Organização!
Parágrafo 10
...dezenas de milhões de dólares são usados par cuidar dos
gastos com superintendentes viajantes, pioneiros especiais e missionários.
Comentário
Os aqui mencionados são os funcionários teocráticos que a
Organização inventou para manter a máquina em movimento, numa cadeia
hierárquica bem definida, e que claramente contraria a ideia de uma organização
sem classes, como costumam dizer sem clérigos nem leigos. O que é certo é que
têm estes “profissionais”.
E se gastam dinheiro com eles, acho bem estranho como isso
tem base bíblica, pois pelo que sei Paulo como missionário não consta que
recebesse, nem qualquer outro!
Parágrafo 11
Jeová se agrada muito dessa disposição.
Comentário
O contexto mostra que os membros deviam juntar dinheiro para
entregar depois na congregação. E concluem com essa frase. Mas o que me
intriga, porque há-de Jeová agradar-se com essa disposição? Acaso recebe por
transferência bancária?
Parágrafo 12
Ele promete nos ajudar quando nos sentimos cansados.
Comentário
O que se quer dizer é que ninguém tem desculpa e nem pensem
dizer que estão cansados! Isso é apenas uma fraca desculpa para não dar, para
se recusar ao sacrifício.
E tem mais, reparem bem na subtileza, se ficarem encrencados
não venham à Organização pedir ajuda, aí quem dá é Jeová! Mas o dinheiro foi
para quem mesmo? Não são mesmo muito diferentes dos católicos ou da IURD, pois
não?
Parágrafo 15
...por isso trabalhavam na construção durante o dia e, à
noite, iam para os campos plantar. Um excelente exemplo de sacrifícios a favor
do Reino! Isso nos faz lembrar os irmãos da Macedónia, no primeiro século. Eles
viviam em extrema “pobreza”, mas ainda assim rogavam pelo privilégio de
participar...
Comentário
A comparação é perversa: num caso o único beneficiado
materialmente é a Organização, no primeiro século tratava-se de ajudar
materialmente pessoas carentes, não qualquer organização teocrática existente.
Os aspectos de ajuda humanitária são um aspecto sempre
secundário para a Organização!
Parágrafo 15
Que cada um de nós também 'dê de modo proporcional à bênção
que Jeová nos tem dado'.
Comentário
Parecemos a IURD!
Parágrafo 16
Precisamos manter o equilíbrio ao cuidarmos das nossas
principais responsabilidades, ou seja, as familiares e as espirituais.
Comentário
Depois de citarem o exemplo de cristãos que de dia
trabalharam na construção de um Salão e de noite iam cuidar dos seus campos,
como podem vir com esta hipocrisia de “manter o equilíbrio”? Que equilíbrio há
em trabalhar noite e dia?
Parágrafo 18
...participar o máximo possível...
Comentário
No parágrafo 16 falavam de equilíbrio, ainda se lembram?
Talvez pense que caricaturo em demasia, nos comentários que
faço. Admito que possam ter alguma razão. Mas esta caricatura é necessária para
trazer à evidência o que precisa ser evidenciado. Presumo que para as
Testemunhas de Jeová sinceras poderá parecer chocante, mas isso é apenas porque
tal como Paulo depois da cegueira do deslumbramento as escamas têm de cair dos
olhos, aqui claramente olhos de entendimento. O exercício pode ser doloroso,
mas como se diz: A verdade dói!
[2] Marcos 7:7 “É em vão que persistem em adorar-me, porque ensinam por doutrinas os mandados de homens.”
[3] “Stumbling on Hapiness” de Daniel Gilbert
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