quarta-feira, 2 de julho de 2014

As Razões do Agnóstico


No que à crença em Deus diz respeito, há os que acreditam piamente os chamados teístas, os que não acreditam de todo, os chamados ateus, e aqueles que embora não ponham a hipótese de parte, acham que não há forte evidência para assegurar que existe. Por isso, há quem diga que um agnóstico, não passa de ateu envergonhado. [1] 

Para o agnóstico, de um ponto de vista pragmático, é irrelevante para os assuntos da humanidade a existência ou não de Deus, caso este exista. E até agora em termos objectivos ninguém pode provar a sua existência, mas também não é possível confirmar que não exista. Sim, a razão assiste ao agnóstico em abono da verdade. Ao contrário, o ateísta é redutor, assumindo como premissa a não existência de Deus. Neste sentido o ateu estreita a investigação, mesmo a realizada segundo o método científico. 

É, aliás, um erro comum assumir que Deus é inacessível porque supostamente vive numa outra realidade (outro Universo), mas Deus a existir tem a possibilidade de se manifestar no nosso. Até agora, nunca foi necessário em qualquer hipótese dita cientifica. Mas isso não quer dizer nada, o Universo continua a ser explicável, se retirarmos o parâmetro “tempo”. Sendo que até agora a unidireccionalidade deste continue a ser uma característica muito difícil de explicar. Serve esta consideração para reforçar a ideia de que apesar de Deus não fazer parte de nenhuma equação das leis que governam este nosso mundo, não quer dizer que um dia não venha a fazer parte! Mais uma vez os agnósticos estarão correctos na sua postura, mantendo pelo menos em hipótese, a abertura a um Deus criador. 

Há já propostas científicas que deixam em aberto essa possibilidade, para uma teoria que contenha a explicação do “tudo”[2]. Alguns propõem neste âmbito um salto qualitativo invertendo a causalidade, que ao invés de ser ascendente, possa ser descendente, ou seja, ao contrário de o Universo(s) ser construído a partir das partículas elementares e, pelas leis que as governam, originar tudo o que existe, há quem proponha o inverso, dizendo que tudo se origina na consciência e é esta que origina o Universo. Como percebem há aqui uma repescagem do Princípio Antrópico[3] misturado com conceitos de mecânica quântica.[4] 

Voltando às razões dos agnósticos e pelo que já mencionámos, mantém-se em aberto as explicações relativas ao Universo, mas mesmo em relação ao alcance do nosso conhecimento, ainda aí há muito desconhecido que não nos deve confortar numa posição demasiado pretensiosa. Curiosamente, é sempre através da cosmologia que os grandes problemas nos são colocados. Ao estudar o Universo e a distribuição da matéria nele, notamos que falta matéria. Como não sabemos onde ela pára, como não conseguimos vê-la, chamamo-la de “matéria negra”.[5] Outro problema cosmológico, é que se o Universo veio a existir por meio de um Big Bang, seria natural que, com o tempo, a velocidade de expansão fosse diminuindo. Mas o que se verifica é que a velocidade de expansão do Universo aumenta, ao contrário do que seria de esperar - que deveria estar diminuído. Donde vem a energia que suporta essa aceleração? Como não sabemos de onde vem, chamamo-la de “energia negra” [6]. E eis que, de repente, o Universo quase por inteiro nos é desconhecido. Para os materialistas irredutíveis, o seu conhecimento restringe-se a 5% do Universo[7]. Para o agnóstico, nesse desconhecido enorme, não podemos sem prova adequada, dizer que Deus não apareça! Os ateus argumentam que se trata do “Deus dos hiatos” e que à medida que o conhecimento aumenta o espaço para Deus, diminui de tamanho, já que este não se pode esconder nos hiatos cada vez mais estreitos. Mas o caminho parece ainda longo. 

Para além do mais, temos que dar-nos conta da existência de outros “espaços”, que se regerão obrigatoriamente por outras leis. Estes espaços poderão ser outros Universos, [8][9] o que, certamente, a provar-se a sua existência, apenas aumentará a nossa ignorância. Uma das interpretações da mecânica quântica implica como fundamental um observador (voltamos a pegar no Principio Antrópico) e que antes desse observador todos os estados são possíveis, o que levou ao famoso gato de Schrödinger que tanto podia estar morto como vivo.[10] 

Ficou já provado que são possíveis interacções à distância de forma instantânea, o que só é possível violando um dos postulados da famosa equação de Einstein E = mc2 em que o parâmetro “c” é a velocidade da luz no vazio, velocidade esta que nunca pode ser ultrapassada no nosso Universo. A experiência de Aspect, é prova de que estas interacções instantâneas são facto, o que se pode dar-se através de um fenómeno não-local (ou seja fora do nosso espaço-tempo) [11]. 

Portanto os agnósticos percebem que a postura mais correcta, pelo menos do ponto de vista dos que buscam a verdade. 

Não estamos a falar aqui da ausência de mudança, do alargamento semântico de algumas expressões. Mas isso ocorre naturalmente em todas as áreas de conhecimento. Não muda contudo a razoabilidade da postura dos agnósticos. 

Os ateus no seu reduto materialista (os tais 5% do Universo) muitas vezes na sua estreita visão da causalidade ascendente e de um determinismo irredutível, caiem na armadilha de acreditarem no destino! 

Quanto aos teístas e apesar dos seus melhores esforços, mesmo quando misturam ciência na sua argumentação, têm sempre tendência a levar o esforço demasiado longe e a descredibilizarem-se. O que acontece é que Deus, a existir, nunca se manifesta de modo conclusivo. Talvez Deus, a existir, seja demasiado envergonhado, o que nem custa compreender, quando ponderamos nas gritantes injustiças que grassam pelo mundo, entregue à mão de psicopatas, que a única coisa que parecem adorar é o dinheiro, tome ele a forma que tomar. Deus a existir seria cúmplice desta situação, coisa que qualquer um se sentiria envergonhado se conservasse uma réstia de consciência. É a armadilha teísta de ter um Deus para o Universo ter sentido. 

Os agnósticos, mantendo todas as hipóteses em aberto, não caiem em armadilha nenhuma.



[1] https://sites.google.com/site/dicionarioenciclopedico/agnosticismo
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_de_tudo
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_antr%C3%B3pico
[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Amit_Goswami
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Mat%C3%A9ria_negra
[6] http://pt.wikipedia.org/wiki/Energia_escura 
[7] http://astropt.org/blog/2013/10/26/composicao-do-universo/ 
[8] http://pt.wikipedia.org/wiki/Multiverso
[9] http://pt.wikipedia.org/wiki/Interpreta%C3%A7%C3%A3o_de_muitos_mundos
[10] http://pt.wikipedia.org/wiki/Gato_de_Schr%C3%B6dinger
[11] http://fr.wikipedia.org/wiki/Experience_d%27Aspect