sábado, 15 de fevereiro de 2014

A dúvida na espiritualidade



Muitos dos apologistas das Testemunhas de Jeová que intervêm em fóruns e blogues, costumam acusar os pretensos apóstatas como vazios de ideias e destruidores de esperanças exegeticamente legítimas. Acusam-nos de apenas serem capazes de lançar dúvidas, de destruírem e nunca construírem.

Contudo partem sempre de um pressuposto que fica sempre por provar, que é: A verdade é propriedade das Testemunhas de Jeová! Ou seja, acham que a teologia que defendem é de todas as mais certa. Para além de revelar uma presunção e arrogância que só pode ser defendida com base na fé, carece de uma confirmação, mesmo que nos terrenos da exegese bíblica, sem extravasar para outras considerações igualmente oportunas. 

O que esse tipo de declarações parece ignorar sem grande reflexão adicional, é a importância da dúvida na construção da fé. [1] Se recuarmos aos primórdios do movimento e ao seu fundador Charles Taze Russell [2] este foi apenas porque nutriu dúvidas, sobre as crenças que tinha sobre Deus e seu propósito que foi levado a um estudo das Escrituras. Foi esta busca que mais tarde veio a resultar numa interpretação diferenciada das demais e originar a actual organização das Testemunhas de Jeová, tão empenhada no proselitismo. 

Mesmo as suas mudanças em relação aquilo que consideram teologia ortodoxa, implica que pelo menos o Corpo Governante, autoridade máxima no seu seio, tenham dúvidas. Se apenas tivessem certezas, que necessidade haveria de anunciar “novas luzes” ou “novos entendimentos”? Perante a dúvida podemos reagir de uma maneira construtiva, que é analisar a questão e tirar conclusões. Ou reagir negativamente, defendendo irracionalmente uma posição, tornando-se dogmático. Quanto maior a dúvida maior o dogmatismo, como se a defesa intransigente transformasse magicamente uma dúvida numa certeza. Tal postura não pode ser confundida com fé, ou como alguns gostam de dizer “inabalável fé”. Porque a fé não é uma crença cega ou irracional, pelo menos conforme a Bíblia a define em Hebreus 11:1: “ A fé+ é a expectativa certa* de coisas esperadas,+ a demonstração evidente* de realidades,* embora não observadas.+” 

A fé exige uma postura racional, senão como pode ser uma “expectativa certa”? Para estar “certa” é preciso confirmá-la, avaliá-la, ponderá-la. Como pode haver “demonstração evidente”, sem ser analisando os diversos passos da “demonstração”? Poderíamos comparar a fé à hipótese científica. Esta ainda não tem confirmação, mas procura uma interpretação para um conjunto de observações e extrapola para acontecimentos que devem esperar ser observados no contexto da sua interpretação. De nenhuma forma pode ser confundida com dogmatismo. Mas certamente a fé pode alocar a dúvida na sua construção. 

Como se pode buscar a Deus, se tem a convicção de O conhecer já? Como se pode julgar conhece-Lo, quando somos criaturas de pó? Como podemos sequer concebê-Lo se nós estamos no domínio material e Ele no domínio espiritual, uma realidade que não nos é acessível? Como é que sendo seres finitos, podemos entender um ser infinito? É preciso aceitar como válida a ideia de que Deus se pode revelar de muitas maneiras e que algumas delas, nos sejam de momento absolutamente desconhecidas. Se é assim, porque não a dúvida? Esse motor de toda a busca. 

Quem não tem dúvidas deixou de buscar a Deus. E quem deixa de buscar a Deus, está condenado a perdê-Lo, a acabar sem Deus. Encontrará na sua insegurança um sucedâneo, mas nunca alcançará a realidade Dele. Pior ainda, nem sequer se aproxima Dele, mas afasta-se. 

Jesus na sua renovada visão do Deus Antigo, provou que esta busca nunca pára, não se pode estacionar numa posição. Estacionar é perdê-Lo. Portanto o que esses apologistas das testemunhas parecem ignorar é que não há fé, nem Deus, sem dúvidas que a confirmem e estimulem a busca Dele. 

Afinal o que o levou a converter-se ao movimento? Não foram as suas dúvidas, a sua busca por Deus, a sua necessidade espiritual? A menos que seja filho de Testemunhas de Jeová e as suas crenças resultem mais de imposição do que de uma busca espiritual pessoal. Portanto se agora está convencido da 'verdade' conforme defendida pelo movimento, lembro-o que o que o trouxe a ele foi precisamente a dúvida. Duvidar não é mau, trouxe-o à 'verdade'. Porque é que agora que pensa tê-la encontrado, ele se torna má? E se se tornou, como pode ter a certeza que a transformação da dúvida numa coisa má se deu depois que entrou no movimento e não estará mais à frente? Ou seja qual é afinal o critério que determina quando a dúvida é má ou é boa? 

Os apóstatas estão afinal a fazer-lhes um favor, promovendo a sua espiritualidade, que deve ser afinal o objectivo de todo o crente. Eles estão a ajudá-lo a progredir espiritualmente. Aceite a dúvida sobre assuntos teocráticos, procure esclarecer-se e com isso estará na busca de Deus, estará no percurso mais espiritual que podia desejar.


[1] http://www.ted.com/talks/lesley_hazleton_the_doubt_essential_to_faith.html
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Taze_Russell

Evite ser 'demovido depressa de sua razão'



Já o fizemos anteriormente e voltamos de novo à carga, fazendo uma análise do conteúdo de A Sentinela de estudo de 15 de Dezembro, disponibilizada gratuitamente no site www.jw.org. Tratam-se de considerações breves do primeiro artigo de estudo com o tema acima mencionado. O formato da nossa abordagem será o mesmo, citamos o parágrafo na parte que nos interessa destacar e de seguida o nosso comentário.


Parágrafo 1, 2 ...
sob influência do Diabo recorrem cada vez mais ao engano,
Comentário Este medo é um bocado descabido para quem afirma ter tanta fé em Deus e em vista do que diz em 2 Coríntios 13:8: “Pois, não podemos fazer nada contra a verdade, mas somente a favor da verdade.” Se assim é, não percebo tanto medo, tanta cautela e tanto aviso. Quem pode ter razões para temer é que recorre ao engano. Será que... 

Parágrafo 4 .
..aguardamos a destruição de Babilônia, a Grande, o império mundial da religião falsa.
Comentário Passam este ano 100 anos desde a pretensa entronização do Cristo nos céus em 1914. Todas as explicações para a duração da geração que tinha presenciado o acontecimento com os olhos do entendimento se esgotaram. A última invenção é que a “geração” se refere aos ungidos e ainda há-de haver “ungidos” quando o fim vier. O que acredito, até porque tem vindo a aparecer cada vez mais “ungidos”! Se este conceito num ponto tão fundamental quanto o entendimento do que é esta “geração”, varia tanto, que confiança podemos ter em qualquer outra interpretação provinda da Organização? Aliás 1914 já foi interpretado por esta como o tempo do fim e não como o início do fim. [1] Os malabarismos teológicos da Organização são sempre surpreendentes. 

Parágrafo 4
...por meio da congregação...
Comentário segundo
Visto que é nestas que as pessoas são endoutrinadas nos conceitos da Organização.

Parágrafo 4
Dar atenção a esses alertas frequentes pode fortalecer nossa determinação de prestar a Deus 'um serviço sagrado com nossa faculdade de raciocínio.' - Rom. 12:1
Comentário terceiro
Será servir a Deus ou à Organização? E reparem que o texto menciona 'faculdade de raciocínio'. Que raciocínio haverá ao aceitar sem questionar tudo o que a Organização debita? Ora como vimos no primeiro comentário eles não são de confiança, tendo vindo com o tempo a alterar o que antes defendiam com convicção. Já Jesus dizia que se um cego guiar outro cego, ambos cairiam numa cova. Com isso Jesus quis dizer que nunca devemos entrar em “seguidimos” cegos. 

Parágrafo 5
...alguns na congregação haviam ficado “provocados”, ou perturbados, achando que o dia de Jeová estava prestes a chegar. (Leia 2 Tessalonicenses 2:1, 2)
Comentário
Mas não é precisamente isto que faz a Organização? Não estão sempre a provocar as congregações “achando que o dia de Jeová” está prestes a chegar? Ou estão agora a começar uma retirada estratégica, para nos dizer que não devemos especular, como se toda esta ansiedade pela chegada do dia tivesse sido cultivada de moto próprio pelos publicadores! Quando é que finalmente os iluminados do Corpo Governante assumem que não sabem interpretar adequadamente a Bíblia, pelo menos de modo a que possam impor a sua visão a quem quer que seja? 

Parágrafo 6 
Até que ponto eu amo a verdade? Estou em dia com o entendimento actual fornecido por esta revista e outras publicações baseadas na Bíblia, que são preparadas para a congregação mundial do povo de Deus.
Comentário 
Isto é uma afirmação perversa! Parte da assumpção não provada de que sempre nos dizem a verdade, equiparando o que escrevem à autoridade da Bíblia! Na nota do parágrafo fala que no decorrer da história a apostasia produziu classes, clérigos e leigos. Bom, a Organização e o seu Corpo Governante, produziu governantes e governados. 

Parágrafo 7 
“o amor ao dinheiro é raiz de toda sorte de coisas prejudiciais.” 
Comentário 
Pois, mas e então os investimentos que o Corpo Governante faz, inserem-se em que contexto? Não será neste? Afinal faz sentido uma organização que condena o uso do tabaco e não toma partido nas guerras investir nessas áreas? [2] 

Parágrafo 8 
...havia homens que falavam “coisas deturpadas, para atrair a si os discípulos.”(2 Cor. 11:4, 13; Atos 20:30)
Comentário 
Mas afinal quem é que fala de coisas que nem sequer estão na Bíblia como se estivessem e são por isso mesmo “desordeiros”? Sim a Bíblia não fala sobre vacinas, sobre o ano de 1914, ou sobre a existência de um Corpo Governante, ou fala? E contrário ao que às vezes se faz parecer querer, os que denunciam as falhas teológicas da Organização, não estão na sua larga maioria buscando fazer “discípulos”! Quem os quer fazer a toda a força é mesmo a Organização e para isso tanto insiste na necessidade de uma pregação feita com carácter de urgência, como se o mundo fosse acabar amanhã. Portanto se a alguém se há-de aplicar a Escritura sobre “coisas deturpadas para atrair discípulos” ela parece aplicar-se com perfeição à Organização. 

Parágrafo 8 
Aqueles efésios 'puseram à prova' pessoas que na realidade eram falso apóstolos, homens mentirosos. (Rev. 2:2) 
Comentário 
Então porque não se poderá por à prova o Corpo Governante? O que tem para temer? ~

Parágrafo 9 
...devemos ficar alertas caso alguém que assiste às nossas reuniões na congregação tente nos envolver em conversas que giram em torno de críticas ou de especulações pessoais.
- 2 Tes. 3:13-15 
Comentário 
Espero que tenham a noção de que isso envolve o que vem em A Sentinela! Ou os únicos autorizados a fazerem críticas e terem especulações pessoais são os velhos de Brooklyn sentados como Corpo Governante? 

Parágrafo 10 
...tradições 
Comentário 
Esta defesa das “tradições” é nova e leva a Organização para fora do conceito de sola scriptura, tão querido desde Lutero à interpretação protestante. Será que o Corpo Governante está a fazer uma inflexão ao catolicismo? 

Parágrafo 10 
...promovidas como se tivessem o mesmo valor dos ensinamentos das Escrituras. 
Comentário 
Mas será que o Corpo Governante não se enxerga, não tem um espelho diante de si, quando escreve estas coisas? De facto o Corpo Governante puxou para si a competência de emanar ensinamentos com o mesmo valor dos que estão nas Escrituras! Pois, como pode desassociar alguém por apostasia, se não é assim? 

Parágrafo 13 
A predita apostasia se revelou muito tempo atrás e continua até hoje. 
Comentário 
E então porque a Torre, a Organização, o Corpo Governante não podem ser um reflexo dessa apostasia? Só porque juram que não? Lembram-se, que os efésios puseram à prova? Devemos fazer o mesmo ao que nos quer ensinar o Corpo Governante. No mínimo é da mais elementar justiça. 

Parágrafo 14 
Para cumprirmos essa comissão, precisamos ser zelosos no ministério. 
Comentário 
A única coisa que parece realmente importante para o Corpo Governante é manter a Organização a funcionar e sem discípulos ela pára. 

Parágrafo 15 
...a adoração em familia servirá de protecção contra especulações e dúvidas. 
Comentário 
Ou seja, é preciso que a família sirva como complemento da Organização em manter todos igualmente cegos e surdos. Nada de questionar a sabedoria do Corpo Governante, que nestas coisas tem um canal directo com Deus. A qualidade do 'espírito santo' canalizada para estes deve ser de primeira, enquanto para os restantes é rasquido. Nem se apercebem como desenham um Deus execrável... 

Parágrafo 16 
Os ungidos têm a perspectiva de se unir com Cristo no céu. 

Comentário Aqui convém que se esclareça em que sentido! Estes “ungidos” não podem ser o “escravo fiel e discreto” agora de uso exclusivo pelo Corpo Governante. Afinal que sentido tem falar em “ungidos”?


Quando estudarem A Sentinela! nunca esqueçam que sempre têm de fazer um exercício de auto-referenciação. Ou seja, o que o Corpo Governante aplicar aos outros tem de em primeiro lugar aplicar a si mesmo. Vai ver que é um exercício interessante e esclarecedor.

[1] Veja o livro Proclamadores
[2] http://www.jwfacts.com/watchtower/politics.php#commercial

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Auto-referenciação



Para haver noção de quão alienada pode estar uma organização, que se vê a si mesma como especial e que tenta passar uma ideia de modéstia e descrição, basta proceder a um exercício de auto-referenciação. 
O que entendemos por auto-referenciação? É o exercício de aplicar a sua visão dos outros, ou o que exige dos outros a si mesma, seja à organização no seu todo ou a parte dela. 
É um exercício de honestidade intelectual. 

Vamos fazer esse exercício com base numa publicação das Testemunhas de Jeová, em “A Sentinela” de 15 de Novembro do ano transacto com o artigo “Pastores, imitem os dois maiores pastores”. O artigo visa instruir os anciãos de modo a exercerem pastoreio aos restantes membros da congregação. Temos de lembrar-nos que a função primária destes passa por manter o rebanho contente na actividade de pregação. Sem esta actividade, o movimento depressa entraria em colapso. Recentes desenvolvimentos baseados na sua escatologia[1] colocam em perigo a visão da urgência da actividade, vendo os responsáveis máximos um perigo que precisa ser colmatado. Um dos caminhos para manter o rebanho é dar-lhe afago emocional. Num mundo confuso e em crise, a precisar de abraços a receita pode revelar-se bem sucedida em manter os que estão e converter outros. Esta discussão é além do mais necessária, porque o movimento diz-se sem classes, se assim é o que se aplica aos anciãos há-de então aplicar-se com mais acutilância aos responsáveis pela liderança, que se intitulam a si próprios de “Corpo Governante”. 

O que segue são excertos da publicação supra-citada e que pode ser consultada no site da organização [2]. Apenas referenciamos o parágrafo e citamos a parte que nos importa para a discussão.


Parágrafo 1
“o homem simplesmente leva o rebanho para um pasto e o deixa sem nenhum cuidado, é bem provável que em poucos anos ele tenha muitas ovelhas doentes que não lhe darão nenhum lucro”. Mas, quando as ovelhas recebem cuidados adequados, o rebanho vai bem.
Comentário:
Aqui fazem uma citação e referem que as ovelhas é para dar lucro. Muito honesto!

Parágrafo 2
Porque os que tinham a responsabilidade de ensinar a Lei de Deus ao povo eram duros, exigentes e hipócritas. Em vez de cuidar das ovelhas de seu rebanho com amor, os líderes religiosos de Israel colocavam “cargas pesadas” nos ombros delas. 
Comentário: 
Então mas não é o que o Corpo Governante faz? Não são “duros, exigentes e hipócritas.”? Vejamos se não são “duros” no sentido de que se alguém não aceita as suas regras ou visão teológica pode ser desassociado? E tem acontecido inúmeros vezes que hoje pode ser desassociado e amanhã pelo mesmo acto já não! Não são “duros” quando proíbem pais de terem contacto com filhos desassociados ou vice-versa? Não são exigentes, sempre estimulando que a pessoa dê tudo em favor do movimento? Que não frequente ensino superior, mas ao invés siga o caminho do proselitismo como profissão? Não procuram que todos os anos, os seus membros pelo menos um mês ou mais sirvam mais tempo na actividade de pregação, servindo como pioneiros? Não têm os anciãos de pregar e cuidar de inúmeras responsabilidades congregacionais sem qualquer remuneração, ou ainda pior com pouco ou nenhum reconhecimento? Finalmente são hipócritas porque apesar de serem duros e exigentes, se apresentam como preocupados e amorosos. Além de que nunca ninguém os viu a pregar tanto como o que demandam dos outros.


Parágrafo 3
Os anciãos nunca devem esquecer que eles são subpastores, sujeitos à supervisão do amoroso Filho de Deus, Jesus Cristo, “o grande pastor das ovelhas”. 
Comentário: 
Os anciãos se calhar estão bem lembrados disso, mas o Corpo Governante não está! Eles substituem-se a Cristo, ao afirmarem ser o único canal entre Deus e os homens, quando este papel é só de Jesus que afirmou claramente “Ninguém vem ao Pai, senão por mim.” 

Parágrafo 4 
Por outro lado, os anciãos cristãos são exortados a não 'dominar' os que são a herança de Deus’. Comentário: 
Como é que este exercício de domínio está ausente da expressão “Corpo Governante”? Então se governam, alguém há-de ser governado, e há sem espaço para tergiversões um domínio sobre alguém!

Parágrafo 5
Esse quadro mental passa a ideia de que Jeová cuida das necessidades dos membros da congregação que estão fracos e vulneráveis.
Comentário:
A princípio pode parecer até que tal frase denota uma preocupação amorosa com alguém numa condição menos favorável. Mas é preciso entender aqui a semântica particular do movimento perante a palavra ‘fraco’ e ‘vulnerável’. Para eles, e claro está para o Corpo Governante, ‘fraco’ é o que prega pouco! E ‘vulnerável’ é aquele que nutre dúvidas em relação à doutrina oficial e corre portanto o risco de tropeçar e até tornar-se herege ou mesmo apóstata. Sendo que fraco e vulnerável é também aquele que não assiste a todos os ofícios religiosos do movimento.

Parágrafo 6
Sem invadir a privacidade deles, o ancião fica atento ao que vê e ouve na congregação, e amorosamente se coloca à disposição para “auxiliar os que são fracos”.
Comentário:
Embora seja muito correcto o “sem invadir a privacidade deles”, a frase é falsa! Haja o rumor de por exemplo um dos seus membros estar envolvido em fornicação e vão ver para onde vai parar a dita privacidade!

Parágrafo 7
Em vez de alimentar as ovelhas, aqueles pastores as exploravam e ‘apascentavam a si mesmos’. (Eze. 34:7-10; Jer. 23:1) A condenação que Deus expressou contra aqueles pastores pode muito bem ser aplicada aos líderes da cristandade.
Comentário:
Estas frases são claramente hipócritas! Então o Corpo Governante reduz as reuniões em contradição com Hebreus 10:24, 25 [3] que tanto gostava de citar para levar os fracos a assistir às suas reuniões; e vai daí e elimina uma das reuniões semanais! Portanto distribui menos alimento espiritual! E que dizer do encolher das revistas no número de páginas? Há então menos alimento distribuído! Portanto o ‘Corpo Governante’ enquanto pastor é igualzinho à cristandade! Mas continua a pedir o mesmo esforço aos seus seguidores, quer no tempo quer nos recursos canalizados para si. Ou seja estão apascentando a si mesmos.

Parágrafo 8
Por lavar os pés deles, Jesus ensinou uma lição prática sobre humildade, qualidade que os superintendentes cristãos precisam mostrar.
Comentário:
Quando os membros do ‘Corpo Governante’ lavaram os pés de alguém? Ou seja quando mostraram humildade? Será que humildemente mudaram a sua política face aos pedófilos? Será que pediram desculpas a todos aqueles que deixaram ir para a prisão por recusarem “serviço cívico” ao invés de serviço militar e até os desassociaram e mais tarde mudaram de opinião e já permitem aos seus jovens a prestação de “serviço cívico”? Afinal não é isto uma enormíssima hipocrisia? E quando mudam de conceitos teológicos na afirmação de que são “novas luzes” ou “novo entendimento”, alguma vez afirmaram que antes estavam errados? Não me lembro de ter lido isso uma única vez.

Parágrafo 9
Jesus corrigiu essa atitude, dizendo: “Vocês sabem que os governantes de outras nações gostam de mandar no povo. E seus grandes líderes têm poder absoluto sobre todos os que eles governam. Mas não façam assim. Se querem ser grandes, vocês devem ser servos de todos os outros.” (Mateus 20:25, 26, Contemporary English Version)
Comentário:
Será que os membros do ‘Corpo Governante’ entendem esta frase de Jesus? Não podem entender de certeza! Então eles chamam a si mesmos de ‘governantes’ coisa que Jesus condenou aos seus seguidores! E se são incapazes de perceber frase mais clara, como podem confiar que eles entendam bem qualquer outra?

Parágrafo 10
Paulo disse aos coríntios que ele não era amo da fé daqueles cristãos.
Comentário:
Sim, Paulo talvez não tenha sido, mas em contra partida o ‘Corpo Governante’ tem sido. A prova é o facto de que naquilo que não está claramente expresso na Bíblia, eles irem “além das coisas escritas” e porem-se a inventar! Tem sido assim com o caso das vacinas, dos transplantes e das transfusões de sangue! Houve tempos em que proibiram aos seus membros taxativamente essas coisas, nunca deixando à consciência do crente. E se não são amos da fé, então o que são as regras de vestuário, de comprimento do cabelo, de música aceitável, etc, etc.?

Parágrafo 11
Ele pode destacar princípios bíblicos que um irmão deve considerar ao tomar uma decisão importante e analisar com ele matérias que já foram publicadas sobre o assunto.
Comentário:
Repare-se como subtilmente se coloca a Bíblia a par com o que a organização pública! Pegando no parágrafo anterior se não são amos da fé, bem que o querem ser.

Parágrafo 12
Agir assim ajuda os anciãos a evitar qualquer abuso de poder.
Comentário:
Em termos de abuso de poder, a organização tem muito por onde corrigir. Desde guerrilhas políticas entre anciãos pelo controlo das congregações, até comissões judicativas com decisões muito díspares, ou seja arbitrárias, consoante o membro e o estatuto deste, que esteja em causa. A imparcialidade e o objectivo de servir a justiça, mesmo que pelo seu particular entendimento da Bíblia, deixa muito a desejar! O caso mais público de que assim é os casos de pedofilia. Nalguns casos o prevaricador continuou às vezes até mesmo, servindo em cargos de responsabilidade.

Parágrafo 13
Como um ancião pode ser exemplo para o rebanho?
Comentário:
Basicamente por pregar muito e ainda assim cumprir com todas as exigências adicionais, ou seja assistir e preparar reuniões e fazer pastoreio. Também que ‘convença’ a família a fazer o mesmo, ou seja que pregue muito, assista às reuniões, as prepare e participe nelas. Isso é o que querem dizer quando escrevem “deve ser ajuizado no sentido de entender claramente princípios divinos e saber como aplicá-los em sua própria vida.” Não admira que estes homens, pelo menos os convictos e sinceros, se esgotem e sofram de níveis assustadores de stress. Claro está que também não o podem manifestar abertamente, pois serão tidos como ‘fracos’, devendo em alternativa sempre mostrar-se alegres pois “Jeová é um deus feliz”. E que os que têm fé, nunca se esgotam pois confiam que Jeová lhes dá poder!

Parágrafo 14
A determinação dos superintendentes em dedicar seu tempo e energia à pregação das boas novas, apesar de sua agenda cheia, incentiva a congregação inteira a imitar seu zelo.
Comentário:
Ora cá está a confirmação do que já afirmamos. Basicamente a mensagem para os anciãos é: Matem-se a trabalhar para a organização a ver se os restantes também o fazem! Claro que não “duros” nem “exigentes”, são apenas “hipócritas”, pois tudo isso é para manter a sua organização a andar. O bem-estar das ovelhas é realmente subserviente dos seus interesses.

Parágrafo 15
Assim, pastorear envolve visitar com regularidade os membros da congregação para tentar entender as dificuldades de cada um deles e encorajá-los com conselhos bíblicos apropriados. 
Comentário:
Apenas realça o que já dissemos. Em suma, os anciãos não têm desculpa, têm de fazer TUDO o que lhes é pedido sem descanso: Pregar muito, preparar e dirigir as reuniões, cuidar da família e ainda fazer pastoreio. E se houver problemas, a culpa é deles que não cuidaram do rebanho. Conheço alguns destes homens de bom coração, que procuram cumprir com todas estas demandas organizacionais. Nem sempre são bem sucedidos, mas faz parte, assim tem sempre ‘culpa’ em algum aspecto. Esta ‘culpa’ é depois usado para os ‘manter na linha’. A hipocrisia e perversidade do “Corpo Governante” é deveras refinada.

Parágrafo 16
Mesmo que a pessoa espiritualmente doente não ‘chame os anciãos’, eles devem agir para ajudá-la assim que souberem de sua situação.
Comentário:
Lembram-se ainda da treta da ‘privacidade’ quase no início do artigo? Então vejam lá se não há aqui uma contradição. E como se vê as actividades destes pobres homens, ainda inclui servirem em comissões judicativas, porque é a isso que o parágrafo se está a referir. Devo lembrar que a maioria destes anciãos se bem que às vezes bem intencionados, são na maioria pessoas simples, sem qualquer formação jurídica para entender conceitos básicos como a diferença entre um facto e uma interpretação. Muitas vezes a sua impreparação e auto convencimento de que estão habilitados torna as situações piores. Mas isso acaba sendo o reflexo da sua própria liderança que opina sobre assuntos, para as quais, apesar das aparências, não está nitidamente qualificada.

Parágrafo 17
O rebanho é muito beneficiado e continua progredindo.
Comentário:
O importante é que continue progredindo, de preferência aumentando em número, pois não esqueçam é para dar “lucro” como indicava o primeiro parágrafo. Aliás esta organização deve ser vista como uma empresa que vende artigo e este calha de ser ‘religião’. É ilusório pensar que fornecem a ‘verdade’ sobre a Bíblia ou uma esperança mais fundamentada do que as outras.


Nota final:
Muitos talvez estranhem que sempre mencione as Testemunhas de Jeová nos meus artigos e que não sou meigo com elas. Que talvez haja alguma relação de inimizade que me motive. Nada podia estar mais longe da verdade e convém esclarecer que como estudioso destas matérias, um dia me deixei envolver por um dos seus pregadores e aproveitei para fazer um estudo mais profundo do movimento. No princípio sentia o calor de uma fraternidade, fui aceito e bem acolhido como ‘estudante da bíblia’. As coisas começaram a ficar menos entusiasmantes e calorosas quando comecei a fazer perguntas baseadas na minha própria investigação. As dificuldades do meu ‘instrutor’ em me responder e às vezes respondendo com afirmações pouco honestas, levaram a pouco e pouco a acharem-me companhia pouco recomendável, um perigo para as ovelhas. Como não me podem impedir de assistir às suas reuniões públicas, a que assisto com regularidade, têm-me debaixo de olho, em especial os anciãos, seguindo as instruções da organização por meio dos seus superintendentes viajantes, como são designados os representantes da Associação aqui em Portugal.

Nos últimos anos, já desistiram de conversar comigo, porque acham as minhas perguntas impertinentes. No fundo, dizem-me que ando a ler nos sites apóstatas e que não devia fazer isso, pois são apenas mentiras e calúnias. Mesmo quando são citações das suas próprias publicações! É curioso como quando nos aproximamos deles, colocando em questão as crenças anteriores somos elogiados, mas quando questionamos com profundidade as deles, somos…insensatos, que se deixam enganar.

Portanto se é um ‘estudante da bíblia’ apenas lhe posso dizer que seja cauteloso e examine bem onde se está a meter, pois como diz o ditado “Nem tudo o que luz é oiro!”
Apenas quero ajudar as pessoas a reflectirem e a ver aquilo que numa primeira abordagem do movimento, não é óbvio.
Espero que esta breve nota, lance luz sobre o que me motiva.


[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Escatologia
[2] http://www.jw.org/pt/publicacoes/revistas/w20131115/pastores-imitem-os-maiores-pastores/
[3] Diz o texto: “E consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos ao amor e a obras excelentes, não deixando de nos ajuntar, como é costume de alguns, mas encorajando-nos uns aos outros, e tanto mais quanto vedes chegar o dia.” (ênfase acrescentado).