Jesus conta uma tocante ilustração sobre a necessidade de recuperar as
ovelhas perdidas aqui em Lucas 15:4 a 7:
3 Então lhes contou a seguinte ilustração, dizendo: 4 “Que homem dentre vós,
com cem ovelhas, perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove atrás no ermo
e vai em busca da perdida, até a achar? 5 E quando a tiver achado, ele a põe
sobre os seus ombros e se alegra. 6 E, ao chegar à casa, convoca seus amigos e
seus vizinhos, dizendo-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha
que estava perdida.’ 7 Eu vos digo que assim haverá mais alegria no céu por
causa de um pecador que se arrepende, do que por causa de noventa e nove justos
que não precisam de arrependimento.
O que teria Jesus na ideia ao dizer estas palavras? Tratar-se-ía de
ovelhas fora do redil judaico, que eventualmente haviam deixado de adorar do
modo correcto? Precisariam de novo voltar ao templo? Seriam irregulares no
sábado na sinagoga?
Jesus confessou que tinha vindo às ovelhas perdidas de Israel. (Mt
10:6; Mt 15:24) Portanto muito mais tarde ele insta que se procurem estas
ovelhas (Mt 18:12) E em que sentido andavam as ovelhas perdidas? (Mt 9:36) As
classes dos escribas e dos fariseus tinham um ensino legalista em detrimento de
um humanismo essencial e necessário. Jesus condenou diversas vezes esta posição
legalista, como foi por exemplo o caso do homem com a mão ressequida curado no
sábado (Mt 12:10), ou até mesmo como aquela mulher que violou a Lei no intuito
de ser milagrosamente curada (Mt 9:20). Mais tarde Jesus denuncia claramente a
situação no capítulo 23 de Mateus, aquele onde não se coíbe de chamar os
hipócritas enquanto tal.
Dá ideia então que o ir à procura das ovelhas perdidas naquele tempo,
não era arrebanhar pessoas num qualquer outro “redil” organizacional
alternativo ao vigente. Jesus foi claro, quando disse que não tinha vindo para
destruir mas para cumprir (Mateus 5:17),
para salvar. Considerando o contexto da época, em que a forma de
adoração praticada no Templo era a certa do ponto de vista de Deus quanto ao
formalismo, mas não no espírito. Era isso que era urgente para Jesus recuperar!
A religião tinha uma função humanista, devendo ser uma fonte de felicidade e
não o contrário, vergando os homens a um cumprimento penoso e cego da Lei (Mr
2:27; Mt 23:23)
Na passagem de Lucas 15:4-7 com que começamos, Jesus não podia estar a
convidar pessoas a ingressar numa Organização, afinal o judaísmo ainda estava
de pé e a sua pregação procurava salvá-lo de uma condição legalista para uma
condição onde as pessoas individualmente contassem e fossem tratadas com
dignidade.
O contexto nos versículos anteriores deixa claro que Jesus diz essas
palavras a quem julgava que havia pessoas além de qualquer redenção. Homens que
julgavam que comer uma refeição com pecadores era errado, pessoas com quem não
se devia conviver. Não soa familiar? Não há uma organização que acha como os
velhos escribas e fariseus que o que é necessário aos pecadores esclarecidos é
que sejam ostracizados da forma mais severa? Que tais pecadores, como dizem
“impenitentes” sejam lançados “fora” do redil ao invés de cuidados ternamente de
se ir à procura da “ovelha perdida”, até perceberem que o seu caminho não é o
melhor, para eles mesmos? Mas qual quê, é preferível que nem a família os
considere, como se estivessem já mortos e enterrados! Que se negue o contacto
do pai ao filho e da filha à mãe.
Citam igualmente a passagem aqui em João 21:15-17, quando Jesus
insistiu com Pedro que cuidasse das suas “ovelhinhas”. Mais uma vez querem
passara a ideia que isso implica manter ovelhas num qualquer redil. Há contudo uma
pergunta básica: Quem são as “ovelhinhas” de Jesus? Se ele morreu por todos,
todos são potenciais ovelhas que se podem beneficiar do seu sacrifício.
De igual forma aqui, a questão não era levar as pessoas para uma
organização, mas o cuidar delas enquanto pessoas, da sua felicidade.
“Apascentar” não é feito num redil! Obriga o
pastor a ir junto com as ovelhas e a indicar-lhes onde os pastos são melhores, um
em que se sintam satisfeitas. Não é uma posição semelhante a contar cabeças num
curral, para ver quem tem mais. E é apenas nisso que as religiões estão
interessadas, em contar cabeças e quanto mais domesticadas melhor. Aliás é
curioso que ao invés de imitar o pastor que deu a sua vida pelas ovelhinhas, estas
prefiram imitar o velho modelo de as queimarem no altar...
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