sábado, 24 de março de 2018

A Religião Revolucionária – Parte II





A Reinvenção do Politburo

Curiosamente todos os movimentos de matriz conservadora, nos quais se incluem muitas das religiões, mesmo as de génese mais recente, é incontornável como adquirem rapidamente tiques autoritários e mais curioso ainda, recuperam mesmo inconscientemente os modelos organizacionais de sistemas que salvaguardam a uniformidade e que lidam muito mal com o pensamento dissidente.
A religião das Testemunhas de Jeová começa pela busca individual de Russell, insatisfeito com as explicações das religiões que conhecia e se dera ao trabalho de examinar. O que se quer reforçar é que a busca da “verdade” é sempre um acontecimento individual. O entusiasmo e os meios é que podem depois originar que desta busca individual surja um movimento e que no final ele se converta numa religião.
A religião iniciada com Russell, evolui com o carisma de Rutherford que é uma caricatura de russo bêbado e religioso megalómano. Uma espécie de Estaline que assume o controlo da casa mediante golpes palacianos e purgas várias. Não é desconhecida a forma como ignora os desejos do fundador e trata de eliminar do caminho todos os que se lhe atreveram a fazer frente, esses sim, apostados em respeitar a vontade de Russell. Criador de Beth Sarim[1] como a Dacha dos altos quadros sovietes e com fantasias teocráticas de uma ressurreição de “príncipes” que justifica que em plena Grande Depressão sejam alocados recursos para construir palácios, o que mostra bem como estes altos quadros se desligam da base que os suporta. Tão típico dos CEOs nas corporações que procedem a “downsizing”. Ou como o Politburo que procura ignorar a voz das bases, para implementar a de uma Elite nascida do aparelho.

Com a chegada de Nathan Knorr esta transformação organizativa vai apenas acentuar-se. Ele decide dar ao movimento um forte cunho empresarial imitando as grandes corporações. Não é uma mudança de política, mas antes uma evolução na continuidade.
É criado um grupo para presidir e orientar a organização: o Corpo Governante (CG). O que levou o Frederick Franz a dizer que tinham vivido numa monarquia até 1976! [2] Portanto esta questão do Corpo Governante não tem nada de teológica, mas acima de tudo de reorganização interna numa luta pelo poder.

Há uma razão por detrás do crescente papel do Corpo Governante: Pretende estar fora do alcance do poder político, numa expressão extrajurídica de qualquer país onde esteja. Isto porque as Sociedades que usa para poder operar dentro de um enquadramento legal, podem ser dissolvidas pelo “Mundo”. O Corpo Governante nunca poderá ser dissolvido por nenhum governo do mundo, buscando como fonte de sua soberania uma relação privilegiada com Deus, argumento comum a todos os ávidos de poder, mas nem por isso mais convincente. Há aqui a criação de uma nação, que reivindica a sua própria soberania e nos remete para a visão judaica denunciada nos Evangelhos: “Se o deixarmos continuar assim, todos depositarão fé nele, e os romanos virão e irão tirar-nos tanto o nosso lugar como a nossa nação.”[3] Como se depreende também o atual Corpo Governante tem o seu lugar e a sua nação. Devia pressupor-se que tal elevado privilégio da parte de Deus, se este quisesse muito estabelecer uma espécie de Embaixada terrestre, que o faria acompanhar das devidas credenciais. Há que lembrar que Moisés ao ser enviado a Faraó não apareceu sem credenciais, o seu bastão transformava-se em serpente. Estes nada trazem a não ser a sua presunção.
Esta “nação” cria os seus próprios órgãos governativos. A este CG respondem os sócios das Sociedades usadas. É este órgão do qual dimanam as doutrinas, as regras, no fundo as leis a que todas as TJs fiéis devem obedecer incondicionalmente. Na sua trapalhada teológica, como havia que fazer entrar novos ungidos no seleto clube do CG, na medida em que alguns iriam receber o seu prémio e sentar-se no seu lugar entre os 144.000 eleitos do Senhor, chegaria certamente o tempo em que não haveria ungidos para ocupar os lugares. Assim inventaram o papel dos “netineus”, que seriam os ajudantes dos ungidos, na semelhança dos netineus que haviam servido junto dos sacerdotes judeus na altura do Templo e nele serviam.
Tudo isso correu um bocado mal porque o tempo foi correndo e com a abertura das atividades a Leste, o número de ungidos ao invés de cair com a aproximação do “fim”, manteve-se e até aumentou ligeiramente. Ou o “fim” ainda ia demorar ou era estranho e afinal os ungidos ainda estavam por recolher e todas aquelas datas de 1935 ser o fim do período de recolha de ungidos e o início do ajuntamento da “grande multidão”. A “grande multidão” seriam aqueles que atravessariam a “grande tribulação” e passariam com vida pelo Armagedon. Realmente épico! Mas todo esse esquema teológico estava a ser deitado abaixo com a multiplicação de ungidos a Leste. E ou criavam outro caso teológico, e foi o que fizeram, alongando o período de escolha dos ungidos que haviam encerrado em 1935, deixando a possibilidade de esse ajuntamento ainda continuar.

Igual ao Politburo dos países socialistas eles enquanto "escravo fiel" vêm a si mesmos como a vanguarda, as "primícias" do "povo escolhido". Também eles se legitimam a si mesmos para liderar a "organização". É um corpo que se auto-perpétua e que de facto exerce força de lei.
O Politburo endurece as suas posições e trata de travar qualquer dissidência, como aconteceu com a expulsão de Raymond Franz e a purga que se lhe seguiu. Este Politburo apesar de dizer acreditar em Deus, tem sempre extremo cuidado para não basear a sua confiança unicamente na fé. Prefere métodos mais mundanos, políticos, que lhe parecem muito mais eficazes.
[3] João 11:48

1 comentário:

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