É
aquela que acha que o mundo não tem saída, se não a radical intervenção da
divindade adorada. A convicção de que todas as estruturas sociais estão ao
serviço do inimigo e como tal não merecem consideração, ou então essa consideração
deve ser marginal.
Alguns
colocam o cristianismo na linha da frente das religiões revolucionárias.
Uma
religião pode ser revolucionária em marcha-atrás como acontece com a
interpretação salafista[1] do Islão, que se tornou tão popular com o Daesh e a
guerra na Síria, impondo a sharia nas suas formas mais radicais e repugnantes.
Ou
as Testemunhas de Jeová que acham que a moda dos anos 50 é aprovada por Deus,
banindo todas as outras. Elaborando diatribes sobre calças justas e o
homossexualismo[2]. Aliás esta contínua luta com os costumes é a melhor
caracterização de uma religião conservadora, que no seu radicalismo se torna
revolucionária mas sem o progressismo inerente. Em semelhança, tanto o
islamismo radical[3] quanto as Testemunhas de Jeová, sabem aproveitar-se das
modernas tecnologias e em particular da internet para o recrutamento dos seus. As
Testemunhas de Jeová nos seus locais de adoração agora ostentam claramente o
endereço do seu site oficial [4] bem como nas suas publicações. Não deixa de
ser uma posição paradoxal já que atribuem à internet um conjunto de perigos,
sendo talvez aquele que mais os preocupa o contacto com material apóstata. É um
facto de que muitos têm vindo a ganhar um esclarecimento sobre os meandros de
funcionamento interno das Testemunhas de Jeová, em especial o funcionamento da
sua cúpula, por meio da internet. Aliás esta cúpula, conhecida como “Corpo
Governante”, viu-se forçada a deixar um certo anonimato, uma certa reserva,
aquilo a que designavam como discrição e assumir-se como os rostos de quem
dirige os destinos dos que os seguem.
Embora
se assumam como seguindo como líder a Jesus, o que é certo é que assumem a
mediação entre os crentes e Jesus. Se assim não fosse, não reivindicariam
obediência inquestionável. Mesmo que alguma coisa pareça ao crente um pouco
absurda, eles reivindicam a orientação do espírito santo e suas ordens como
vindas do próprio Deus. É o típico entre estas pequenas denominações, com
poucos anos de idade, tão típicas de um certo movimento de cisão que a Reforma iniciou.
Mesmo o seu seguidismo, às vezes literal, das Escrituras é bem típico do que
Lutero defendeu como “sola scriptura”[5].
Esta atitude arrasou a tradição da
igreja e congelou qualquer desenvolvimento com base na história, mas abriu as
portas a interpretações completamente mirabolantes das Escrituras. Estas
interpretações carecem sempre de alguma figura “iluminada”. No caso das
Testemunhas de Jeová foi igual, mas evoluiu para um colégio de personalidades no
movimento com o exclusivo da “iluminação”. Esta é uma "religião revolucionária" e aqui também abandonou a personalidade iluminada, o líder, e revolucionou num colectivo. Para quem possa achar que somos
excessivamente críticos, relembro que as “novas luzes” ou novas interpretações
no seio do movimento, apenas podem emanar deste seleto grupo que se
auto-intitula de “Corpo Governante”. Esta expressão é bem americana e é
utilizada no mundo corporativo para designar a alta administração de uma
empresa o “governing body” [6].
Posto
isto temos aqui uma outra ideia revolucionária: A da religião como corporação,
como empresa. Gerida em termos semelhantes e curiosamente na mesma filosofia
neoliberal com algumas nuances: Aqui a
mantra capitalista da “maximização do lucro” embora se mantenha não é tão
evidente, sendo substituída por outra que é “nada contra a organização”. E é
interessante referirmos “organização” porque é mesmo esta a expressão utilizada
no seu meio. Se o primitivo cristianismo era informal na sua vivência e até na
sua expansão, resultado de um passa-a-palavra pessoal, surge aqui na “religião
revolucionária” como uma organização com hierarquias bem definidas, apesar de
dizerem que as não têm, e que criou o seu funcionalismo teocrático, como as corporações criam o seu funcionalismo burocrático..
Esta
“organização” teve ela também de sofrer uma reestruturação profunda, resultado
da crise económica. Venderam as suas propriedades em Brooklyn, no que se calcula
tenha rendido cerca de 1 bilião de dólares, com vista à sua recolocação numa
espécie de novo “Vaticano” na localidade de Warwick [8]. A “organização” faz um
brilhante negócio já que a mão d’obra é toda voluntária, exceptuando um ou
outro empreiteiro subcontratado. Aliás os seus “Salões do Reino” costumam ser
construídos por voluntários locais com os recursos monetários da congregação
local, mas os edifícios ficam sempre em nome da “organização”! E podem ser
vendidos sem que a congregação possa impedi-lo [9]. Temos portanto, outra ideia
extraordinária desta “religião revolucionária”, que baseia a sua fonte de
receita no negócio do imobiliário, usando os crentes como fontes de financiamento!
É interessante aqui relembrar as palavras de Jesus quando disse que não tinha
onde “deitar a cabeça” [10]. Realmente Jesus conservava a sua fé que Deus havia
de providenciar e era acolhido por crentes que com prazer partilhavam com ele
aquilo que tinham [11]. Estes preferem jogar pelo seguro sem necessidade que
Deus providencie coisa alguma, que eles são avisados.
Mesmo
assim a crise atinge a todos e igual a qualquer corporação, ao invés de esperar
algum milagre divino, decidiram reestruturar [12]. Fecharam várias filiais,
mandando para casa e para as congregações os voluntários que lá trabalhavam [13].
Alguns destes sem preparação ou condições para reiniciar a sua vida, depois de
darem tudo à causa, muitos deles abdicando de educação superior, casamento ou filhos,
para servir esta “organização” [14]. Descaradamente ao mandá-los embora
pedem-lhes que continuem a pregar!
Será que esta “religião revolucionária” capaz de transmutar a crença em Deus num investimento imobiliário, pode servir de modelo para todas as outras, sendo essa a reinvenção última? Talvez não, que nesta crise mundial o primeiro abanão económico fez-se sentir precisamente sobre o imobiliário! Para além de outros factores, que devem ser considerados, e que podem contribuir para a sua derrocada [15].
Será que esta “religião revolucionária” capaz de transmutar a crença em Deus num investimento imobiliário, pode servir de modelo para todas as outras, sendo essa a reinvenção última? Talvez não, que nesta crise mundial o primeiro abanão económico fez-se sentir precisamente sobre o imobiliário! Para além de outros factores, que devem ser considerados, e que podem contribuir para a sua derrocada [15].
Como
na vida real as revoluções nem sempre acabam bem.
[3] http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-03-19-Como-um-jiadista-portugues-recruta-pela-Internet
[10] Mateus 8:20
[11] Lucas 10:38 Esta Marta aqui
mencionada é irmã de Lázaro, que é também referido como “amigo” de Jesus e por
este mais tarde ressuscitado.
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