Talvez não haja sonho mais antigo do que o de alcançar a imortalidade. Esse sonho foi reforçado culturalmente pela religião. Outros decidiram tomar o assunto em mãos e surgiu a alquimia. Curiosamente não é o medo da morte que nos leva a querer a imortalidade. Num estudo publicado em 2002 descobriu-se que "o medo da morte não tem relação com crenças relativas à imortalidade".[1]
Desde bem cedo na vida acreditamos que a consciência
permanece, mesmo depois do corpo desaparecer. Aceitamos a morte física do corpo, mas já não é fácil aceitar a morte psíquica.
A vida eterna é um desejo que se manifesta cedo na vida,
sendo que as crianças a têm como adquirida.
A ideia que emoções e desejos já existem antes de nascermos
é comum entre as crianças, mesmo aquelas que nunca foram expostas a tais
ideias, nomeadamente ao conceito de reencarnação.
A vida eterna é uma intuição com que nascemos e é
independente de crenças religiosas. Sentir e desejar é o que nos faz humanos.
O desejo de eternidade deixou o domínio da religião e passou
a estar presente também no mundo secular. A criopreservação é um destes
exemplos. Outras questões como o rejuvenescimento e o “upload” da mente para um computador são
outros exemplos de como o desejo de eternidade afecta o mundo secular. Isto traz
problemas éticos com os quais a humanidade eventualmente se confrontará. [2] Por exemplo, será a eternidade compatível com a reprodução? Haverá recursos para uma sociedade constituído de seres eternos?
Voltando à pergunta se existe vida após a
morte. Ou seja, se a vida é efectivamente eterna ou não. Alguns defendem que
essa ideia é o nosso cérebro a enganar-nos, numa estratégia de sobrevivência.
Uns acreditam que há vida após a morte e outros não.
Stevenson da Universidade da Virgínia fundou a Divisão de Estudos Perceptuais
com o propósito de provar irrefutavelmente a permanência da consciência após a
morte. Criou um protocolo, em que em vida a pessoa fixaria uma mnemónica constituída
de seis palavras que combinadas, dariam a combinação de um cofre e que após a
morte essa combinação seria fornecida a alguém provando assim o ponto em
questão. Stevenson faleceu a 8 de Fevereiro de 2007 e muitos reclamaram ter a
combinação correta. Mas nenhuma resultou.
Contudo, não apenas a ideia de eternidade mas a vida eterna
como possibilidade existe. A medusa Hydra é possivelmente o único organismo
imortal que temos conhecimento (ver video acima). Daniel Martinez propõe-se estudar a criatura já
que esta tem o potencial de nos fornecer terapias que podem prolongar a vida
humana. [3]
Do ponto de vista religioso a existência desta criatura
imortal coloca um conjunto de problemas fundamentais. Ela arrasa o argumento
teológico que afirma que a morte é consequência do pecado. Como Paulo escreve : "É por isso que, assim como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo, e a morte por meio do pecado e, desse modo, a morte espalhou-se por toda a humanidade, porque todos tinham pecado. . . " [4]
Ou ainda a ideia de que os
animais, que não têm pecado, foram deliberadamente criados com a morte como
perspectiva. É que no caso desta criatura animal, nenhum dos dois argumentos funcionam: Se esta
criatura é imortal, então é uma criatura perfeita, uma que não precisa de
nenhuma redenção (Romanos 5:21)[5]. Por outro lado desmente que os animais tenham por propósito
sido criados para morrer, ou pelo menos neste caso há uma excepção! O porquê da excepção fica por explicar.
Já se havia levantado questão semelhante aos defeitos
genéticos. O argumento teológico é que estes resultam da imperfeição humana, de
termos cortado a nossa relação com Deus e nos encontrarmos em pecado, o pecado
original com que todos nascemos. O problema é que os animais não estão
incluídos nessa relação e contudo também têm defeitos genéticos. No caso deles,
que nunca pecaram, nem sequer a noção de pecado se lhes aplica, como
justificar?
No presente caso a teologia traz mais problemas do que aqueles que explica, sendo assim uma má hipótese, que a bem da verdade, precisa de ser rejeitada.
Não podemos deixar que o medo do vazio nos impeça de rejeitar hipóteses que nada explicam. Mas temos de ter consciência da nossa ignorância, abraçá-la, para conscientes dela, podermos com coragem avançar na descoberta da verdade. A existência de uma criatura eterna, joga fora a necessidade de Cristo, o que penso será anátema para qualquer crente cristão. Mas é um mau serviço negarmos a evidência só porque ela não encaixa na nossa cosmogonia.
Aquilo em que se crê seja em relação a como o mundo é ou do ponto de vista da continuação da
vida influi no modo como nos relacionamos. Um estudo revela que quem mais medo tem da
morte mais se inclina à direita em termos políticos. Construir um sistema político baseado no medo não parece saudável. “A Teoria da Gestão do Terror prediz que ataques massivamente
destrutivos conduzem as sociedades a crescerem exponencialmente mais caóticas e
divididas.” [6] O que é naturalmente bom para os que usam a máxima de “dividir para
reinar”.
O medo da morte conduz-nos a mais morte e retira-nos a
capacidade de sermos racionais, compassivos e pacíficos.
[4] Romanos 5:12
[5] Romanos 5:21
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