segunda-feira, 2 de maio de 2011

Educação Superior


Penso que não devia haver valor mais grato de prezar do que o conhecimento. É graças ao conhecimento que sabemos mais do que nunca sobre a natureza e sobre nós mesmos. Ainda que, no percurso, nem sempre gostemos do que vamos conhecendo. Achamos tão importante o conhecimento que o medimos como factor de progresso. Não nos passaria pela cabeça agora proibir as crianças de irem à Escola e de aprenderem a ler e a contar. Temos no nosso país ainda os reflexos de um tempo em que ir à Escola era privilégio apenas de alguns. Infelizmente nem todos tiveram essa sorte e ainda temos muitos analfabetos, felizmente cada vez menos.
Reconhecemos que é necessário como factor de progresso, que os nossos jovens possam progredir nos estudos, e que se se mostram capazes avancem para o ensino superior, universitário. É verdade que nem todos terão a vocação ou a capacidade de aí ascender. Mas quando há, não queremos sequer que o factor económico nos impeça de ter mais um engenheiro, ou um médico, ou professor.

Se alguém, de qualquer quadrante da sociedade viesse censurar a busca do conhecimento e falasse contra a educação superior, como encararíamos isso? É essa reflexão que quero trazer até vós.
Pode haver motivos que levem alguém a censurar a busca do conhecimento. Por exemplo alguns lamentam que hoje dominemos o átomo e sejamos capazes de produzir centrais nucleares ou bombas atómicas. Outros lamentam que o conhecimento nos tenha arrastado até à beira da extinção. E ainda hoje muitas religiões sentem um profundo incómodo com a visão de uma natureza evolutiva. Refutam o conhecimento não com nova evidência, mas com um empedernido dogmatismo fechado para qualquer tentativa construtiva de raciocínio.

Face aos desafios o pensamento religioso encapsula-se, recua para uma posição defensiva, ou se encurralado ataca com ferocidade. Mas é apenas uma instintiva defesa, sem qualquer ponderação quanto às consequências. O homem religioso nunca cede à dúvida, tem sempre e somente certezas! Ele não pergunta, e quando pergunta é inquisidor. Ele não busca o conhecimento, ele tem a verdade! Ele não busca Deus, ele conhece Deus, os seus pensamentos e as suas vontades. Se alguém pensa diferente dele, é porque está de alguma forma condenado. O Deus que a todos ama, deixa de amar aquele que não partilha a sua fé, e a única recuperação possível é converter-se!

Como qualquer pessoa razoável pode compreender, o raciocínio do homem religioso é falho, atrever-me-ei a dizer que é doentio, num grau de subtileza incomparável. O amor ao próximo cede com facilidade lugar à rejeição ou a um paternalismo manipulador. Para o homem religioso o Universo termina nos limites da sua fé, e nenhum telescópio ou instrumento científico lhe permite ver para além desse horizonte, que impôs a si mesmo, submisso na crença.
Tal atitude está sempre presente, mesmo quando tingida por uma ingenuidade piedosa, ou um verniz de amor pelo próximo. Afinal o seu amor ao próximo apenas atinge a profundidade suficiente para o encarar como prospectivo irmão. E quando finalmente se torna irmão, continua uma capa fina, que desaparece ao primeiro sinal de heresia.

As religiões dão-se mal no confronto com ideias diferentes da sua e esse mal-estar aumenta na proporção em que a diferença é próxima. A traição de um irmão, de um que defendeu a mesma fé, é sempre mais amarga e difícil de suportar, numa reencenação do beijo de Judas! A diferença suporta-se melhor no lavar de mãos, um pagão ignaro, do que no companheiro íntimo que comeu pão à mesma mesa.

Mas não podemos ignorar o que sente aquele que é considerado traidor. Como pode alguém que teve a mesma forte fé, apostatar? Ora, ninguém faz isso sem um motivo forte, a menos que seja absolutamente paranóico. E embora os seus companheiros estupefactos o encarem assim numa primeira fase, depressa percebem que não está louco, e passam a temer a sua lucidez e o seu conhecimento. Têm medo de descobrir que o que antes consideravam luz, seja afinal escuridão. Este medo, mostra-se na obstinação com que se agarram aos seus dogmas. Um medo semelhante ao náufrago que no meio do mar, se agarra desesperado a qualquer coisa que flutue.

Nesta doença mental que é a crença religiosa, as coisas simples são amplificadas até ao ridículo. Para o homem religioso, certas peças de vestuário parecem imbuídas de poder mágico, sagrado. As vestes tornam-se sacerdotais. Aparecer perante Deus, torna-se como uma audiência a um Rei, e depois ficam espantados de os restantes se sentirem afastados Dele! Deus adquire exigências obstinadas na forma de postura. De forma mais perniciosa Deus controla um sem número de aspectos da vida do crente. É a dieta, são os hábitos e os prazeres. Tudo passa a estar debaixo do critério e escrutínio de Deus, se bem que sempre pela interposta interpretação, daqueles que exibindo um estatuto de maior proximidade com Deus, reclamam o privilégio de definir a conduta.

Deus conhece-se sempre por interposta pessoa, sempre pelo testemunho do outro e nunca por uma revelação directa e clara. Todas as revelações directas se revelam estranhas, mais fruto de psicoses mal curadas, do que resultado de uma sadia conversa com Deus. Alguns acham que se deve respeitar a religião, mesmo quando as ideias que defende, são para dizer o mínimo um disparate. As ideias, religiosas ou não, devem valer pelos seus próprios méritos e não porque vêem embrulhados em divinidade.

É sobre ideias propaladas pela religião que quero falar agora. Quero abordar um caso particular, e isso não quer dizer, que não pudesse apresentar outras ideias, de outras religiões. A coisa mais ridícula é censurar o outro quando ele é apenas um reflexo nosso. Creio que era isso que Jesus queria dizer, quando falava do ‘próximo’. Vou falar sobre as Testemunhas de Jeová. Não porque como religião minoritária isso seja mais fácil. Aliás é até mais difícil porque pode confundir-se com alguma espécie de preconceito ou de má vontade. Nenhum outro assunto me move, a não ser a avaliação das ideias propostas, nos seus próprios méritos. E qual a ideia da testemunhas de Jeová que me merece dissertação tão longa?

Pois é, as Testemunhas de jeová, andam difundindo entre os seus membros, que procurar o ensino superior é uma coisa má. Contrapõem que a busca do ensino superior é uma busca materialista e dão a entender que fariam melhor se todos se tornassem pregadores como profissão ou que gastassem a maior parte do seu tempo, a pregar que o fim do mundo, ou do sistema de coisas, se aproxima rapidamente. É uma versão curiosa do perdão imediato obtido na conversão! Como se antes, todo o mal praticado pelo convertido se esfumasse como apenas uma fase de demência temporária e inimputável. Curiosamente S.Paulo na sua carta aos Romanos, não faz vista grossa desses pecados e diz que eles (os pecadores), “…são inescusáveis”! Mas não podemos censurar os desejos altruístas de nos salvarem a todos de uma calamidade iminente, tanto quanto o entendem. Percebo que possam ser bem-intencionados e louvo-os por isso.

O que não posso entender é que censurem os seus que procuram alargar os seus conhecimentos avançando para o ensino superior! O que há de tão maléfico e perverso no ensino superior?
Nas suas publicações é defendida a tese, de que melhor que a educação superior é a educação dada por Deus, segundo o modelo jeovista. Dão a impressão dos que o que buscam a educação superior, são movidos por materialismo ou desejo de destaque, como se só a ganância ou o orgulho fossem os motivadores. Nenhuma outra motivação é sequer equacionada. A curiosidade natural, o desejo de aprofundar o seu conhecimento nas obras de Deus ou até talvez o altruísmo de servir os outros, não são considerados como motivação para a prossecução de uma educação superior. Tais nobres motivações, apenas podem ter lugar à Testemunha de Jeová que abdicando da educação superior se empenha na tarefa de pregar a outros as verdades que aprendeu no seio do movimento.

Compreendo a pungência do apelo, já que as Testemunhas de Jeová, vivem sobre a permanente expectativa de um fim que acaba sempre adiado. Salvar vidas, é o resultado do seu trabalho de pregação, tomando toda e qualquer outra actividade um lugar secundário na testemunha devota. Nem mesmo a especulação teocrática ou a discussão sobre as qualidades de Deus e seu projecto é estimulado entre elas. A sua organização se encarrega da parte intelectual e da construção doutrinal. Elas entendem-se como um exército de Cristo que debaixo da orientação dos seus líderes parte à conquista de um mundo mau, todo ele no poder do anjo perverso: Satanás, o Diabo. E tal como num exército, não se consente ao soldado que pense por si mesmo, mas que pura e simplesmente obedeça! Num cenário de guerra, — e as Testemunhas de Jeová vivem num permanente cenário de guerra, onde o mundo inteiro é seu inimigo e as odeia, — não se consente nenhuma folga, para enveredar por educação superior.

Espero que a liderança das testemunhas de Jeová, os responsáveis pela elaboração dos seus aspectos doutrinários, saibam ser coerentes com aquilo que escrevem nas suas publicações, envernizado com o argumento de ser a vontade de Deus. Assim espero que quando se encontrarem doentes, não consultem um médico, nem mesmo um enfermeiro, porque estes tiveram uma educação superior. Devem ser gananciosos e orgulhosos, instrumentos de Satanás, num mundo alienado de Deus. A quem recorrerão não faço ideia! Talvez não lhes faça muita diferença na proximidade de um fim breve. Se esse fim for a brevidade da morte, há que entender que a morte não é o fim e acordarão com perfeita saúde num Paraíso restaurado ou na própria presença do Deus Altíssimo nos céus. Tal atitude relembra os hospitais da Idade Média, que serviam não para curar o enfermo, mas apenas para cuidar dele, até que a natureza seguisse o seu curso e ele se recuperasse ou morresse. A lógica era que em morrendo a sua alma iria para Deus se o tivesse feito por merecer em vida. E portanto se iria para um lugar melhor, não valia a pena estar a perder tempo em recuperá-lo porque aqui na Terra ficaria sempre pior!

Também espero que a liderança, por uma mera questão de coerência, não recorra à moderna tecnologia de impressão a alta velocidade, resultado da engenharia que a educação superior tornou possível. Que ao invés e segundo o modelo dos tempos antigos empreguem uma multidão de copistas destros. E como gostam tanto de encontrar um texto bíblico para o apoio das suas posições, sugiro aquele que ordenava aos reis em Israel que escrevessem para si mesmos uma cópia do livro sagrado (Deuteronômio 17:18).

Por consequência também devem abdicar do telefone, do fax, dos computadores e outras ferramentas que apenas são possíveis porque alguém ao invés de escutar o conselho da liderança jeovista, preferiu seguir a educação superior. E enquanto a influência das Testemunhas de Jeová no mundo é marginal, quando elas mesmas se debatem nos mesmos problemas que são comuns à nossa condição humana, fica estranho a sua oposição áquilo que verdadeiramente poderia contribuir para diminuir e em muito os males do mundo. Ninguém pode negar os avanços benéficos na área da saúde, por exemplo. É verdade que a medicina ainda não nos pode tornar imortais, mas com certeza nem mesmo as Testemunhas podem! Tudo o que podem fazer é depositar esperança numa promessa. Entre uma promessa e uma melhoria, acho que as escolhas são óbvias.

Mas pode haver outra motivação no discurso da liderança das Testemunhas. Qualquer religião que não vê novos crentes aderirem está condenada a desaparecer. Em denominações pequenas como as Testemunhas isso pode tornar-se ainda mais dramático. Por isso, têm necessidade de um esforço estrénuo para ganhar novos membros. Nenhuma boca pode ser dispensada! Mas isso apenas dá vigor e força maiores à denúncia do Cristo no capítulo 23 de Mateus. Já não é mais uma devoção, mas antes missão política. Não é mais uma fé, mas uma estratégia. Como está muito bem espelhado nas palavras da Bíblia em João 11:48 “Se o deixarmos assim, todos depositarão fé nele, e virão os romanos e tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação.”

É o medo de perder o seu lugar, a sua nação, que faz a liderança publicar tais barbaridades, na esperança que não percebam as suas reais intenções. Além do mais, um rebanho ignorante e obediente é muito mais fácil de manipular. Foi assim que perante Pilatos a liderança judaica conseguiu convencer o povo ignorante a gritar pela morte, daquele que apenas os havia alimentado, curado os seus doentes e ressuscitado os seus mortos.

A história tende a repetir-se incontáveis vezes. Mas enquanto a repetimos, não há verdadeiro progresso, nada melhora, nenhum bem resulta. Só a maldade ganha pontos. O verdadeiro amante da verdade, tem sede de conhecer. Não tem medo de nenhuma pergunta, porque em cada pergunta há algo por saber e que precisa ser descoberto. Até a fé devia ter uma coragem igual. Mas quando não é assim tão forte, e o seu alicerce é frágil então precisa ser fortemente resguardada. Como Jesus disse, aos que ele próprio havia escolhido: “Por que sois medrosos, vós os de pouca fé?” (Mateus 8:26)

Contribuído por Pedro Sete

8 comentários:

  1. Encontrei o seu blog por acaso e detive-me um pouco a pensar no que comenta. Este é um assunto muito interessante e muito debatido, mas que muitas vezes gera conflitos.Vejo que o aborda com sentido crítico e conhecimento de causa, coisa que não me atrevo a fazer pois religião é algo que pouco domíno,no entanto por vezes vejo na religião uma muleta que se utiliza quando faz falta e penso o pouco que evoluímos enquanto humanidade desde a pré-história no que diz respeito à religião.Concordo que a busca do conhecimento seja sempre a meta a atingir enquanto seres pensantes, mas que esse conhecimento seja antes de mais dirigido a nós próprios.Os interesses de domínio, de poder, de riqueza, a meu ver, andaram sempre ao longo da história do homem de braço dado com a religião e dela se serviram para legitimar esses interesses....

    ResponderEliminar
  2. Cara Ana,

    Em primeiro lugar quero agradecer-lhe, por se ter dado ao trabalho de comentar, quando foi apenas um acaso que a trouxe a este blog. Mas a vida é feita de acasos.

    Tem razão, estes assuntos tendem a gerar conflitos. Prefiro pensar que da dialéctica pode nascer uma compreensão maior. Se a discussão se centrar apenas em ideias, creio que o conflito até pode ser desejado. Como sabe a ciência avança melhor rumo a uma maior compreensão, alimentada pelas diversas hipóteses em presença. Mas, a religião furta-se ao confronto das ideias e como tal não avança. Aliás regride, porque como dizia Lao-Tsé: “Aprender é como nadar contra a corrente, para-se e anda-se para trás!” A religião recusa aprender, porque já sabe. A religião tem certezas, absolutas, num mundo cada vez mais incerto. Afinal ainda andamos à procura dos 96% que faltam ao Universo[1]!

    A religião é uma muleta, para a angústia de existir, sabendo que esta experiência é apenas temporária. Não seja contudo muito severa com a religião, porque em certo sentido, deu a alguns a força para deixarem progénie. Imagine que a humanidade lidasse desde o seu início com a angústia permanente de uma existência temporária sem qualquer esperança de sobreviver para além. Acha mesmo que teríamos passado da pré-história? A vida precisa de fazer sentido, para que nos pareça valer a pena vivê-la.[2]

    Fala em dirigir o conhecimento para o conhecimento de nós mesmos. Hoje sabemos muito mais sobre nós mesmos do que em qualquer ponto da história, e não é graças à religião! Por mim, qualquer conhecimento sobre a natureza, da qual fazemos parte, vale a pena. Falar sobre as coisas, espalha-o. Tenho a certeza que a Ana concorda comigo, se disser que espalhar conhecimento é também meritório.

    Quanto à sua última frase, deixe-me dizer que “Os interesses de domínio, de poder, de riqueza…” pelo facto de que os reconhecemos como usurpações, sempre precisaram de se legitimar nalgum valor superior. A religião serviu, às vezes ainda serve. Afinal Obama diz que Deus abençoou a América que anda a fazer guerras por esse mundo fora e acabou de capturar o seu inimigo nº1, Osama binLaden!

    Gostaria de aceitar o seu desafio, se um dia voltar sem ser por acaso, e escrever alguma coisa sobre o que sabemos sobre nós, humanos.

    [1] Os cientistas dizem que 4% do Universo é feito de átmos, os outros 96% que faltam, andam à procura… entre matéria-negra e energia-negra (à falta de melhor nome).
    [2] Nós humanos temos tendência para o agenciamento, isto é, atribuir aos fenómenos observados ‘agentes’ mesmo que estes não tenham nenhum.

    ResponderEliminar
  3. Creio ser o conhecimento o motivo pelo qual nos encontramos experienciando nesta dimensão. Creio que as religiões, ao tentar travar esse conhecimento, incorrem em grave pena, sem que se apercebam. Compreendo quando dizem que são os desejos que nos comprometem e nos levam a pecar; no fundo trata-se sempre do nosso desejo de conhecimento, nem que seja conhecimento de emoções. No entanto, é uma questão da natureza do nosso mundo; querer escapar a tudo isso, é querer parar o mundo. Claro que tem de dar mau resultado... acho que o importante não é travar o conhecimento, mas usá-lo para fins positivos.

    ResponderEliminar
  4. Das "coisas" que mais me deixam desconcertada com as religiões de forma geral (conheço pouco das orientais, por ex.)é sempre o seu grande desejo de controlar as pessoas inculcando-lhes a ideia de que são e serão sempre "pecadores". Apre, que já não tenho paciência para "pecados"...o meu desejo é cometê-los todos os dias e ser feliz! Para os responsáveis de algumas igrejas ser feliz é pecado, viver sentindo-se bem consigo próprio é pecado, fazer as suas próprias escolhas é pecado,pensar pela sua própria cabeça é pecado.Ter uma orientação politica, sexual, diferente do que consideram o "bem" é pecado... sei que estou muito longe de poder ou saber discorrer sobre religião, mas este sempre foi um assunto que me afastou da religião.

    ResponderEliminar
  5. Caro Rafael,

    Sabia que tinha escolhido um blog para expor ideias que não são muito populares e tenho assim uma agradável satisfação, sempre que encontro outros que tal como eu se interessam por estes assuntos.

    Deixe-me citá-lo:
    “Creio ser o conhecimento o motivo pelo qual nos encontramos experienciando nesta dimensão.” Mas já pensou que conhecemos porque estamos aqui?

    “Creio que as religiões, ao tentar travar esse conhecimento, incorrem em grave pena, sem que se apercebam.” Quem quer que tente travar uma luta contra o conhecimento está condenado ao fracasso e nesse sentido gasta as suas forças inutilmente. As caixas de Pandora, nunca se mantêm fechadas por muito tempo. A nossa humana curiosidade não resistirá nunca a deixar de espreitar, pelo menos!

    “Compreendo quando dizem que são os desejos que nos comprometem e nos levam a pecar; no fundo trata-se sempre do nosso desejo de conhecimento, nem que seja conhecimento de emoções.” É um interessante ponto que procurarei ponderar nas minhas reflexões, este de aquilo a que a religião chama “pecado” ser apenas e tão só “conhecimento”. Ecoam-me as palavras do livro de Gênesis referentes à “árvore do conhecimento do que é bom e do que é mau.”

    “... acho que o importante não é travar o conhecimento, mas usá-lo para fins positivos.” O conhecimento não é bom, nem mau. O conhecimento não tem moral, é aquilo que é. Os valores morais são um artefacto humano que tenta qualificar comportamentos. O conhecimento é sempre positivo, os comportamentos não.

    Por favor, compreenda os meus comentários de uma forma construtiva, eles não são uma crítica, mas uso-os como um meio para conduzir a minha própria reflexão e nesse sentido preciso de lhe expressar o meu “muito obrigado” por ter comentado.

    ResponderEliminar
  6. Cara Ana,

    Que bom que tenha voltado! Desta vez tenho a certeza que não voltou por acaso e isso obriga-me a manter a promessa de um dia destes postar sobre aquilo que nos faz humanos.

    Fala que não conhece as religiões orientais, pois deixe-me dizer que nenhuma delas cometeu os excessos de brutalidade que em tempos históricos a tradição judaico-cristã decidiu explorar com tanto empenho! A maioria das religiões orientais, nem sequer tentou ser religião, sendo mais um caminho filosófico, um modelo de vida, do que adoração a um qualquer Deus ou Deuses.

    Em relação ao pecado é muito interessante o que sugeriu o amigo Rafael Gouveia num dos comentários. Mas deixe-me dizer-lhe que aquilo que foi ou é considerado ‘pecado’ é um reflexo cultural do tempo. As religiões mudam o que é ‘pecado’ há medida que o tempo passa. Aliás muitos ainda debatem o que foi o ‘pecado original’! Portanto, se os especialistas ainda se dividem nessa matéria e são especialistas, acha que devemos guiar a vida em função do que nos dizem ser ‘pecado’? Como Paulo defende na sua epístola aos Romanos, o que conta mesmo é a consciência da pessoa. O perigo acontece quando há pessoas sem consciência. A consciência é íntima e pessoal, mas muitos abdicam dela e ao invés de seguirem a sua ‘voz interior’ seguem os ditames de alguém. Não é por isso de admirar que certos tenham feito as maiores barbaridades em nome de Deus: Haviam esvaziado a sua consciência de humanidade e em sua substituição tinham posto dogmas e presunção de superioridade de uma crença sobre todas as outras.

    Deixe-me acrescentar também que a religião tem como único objectivo perpetuar-se, não em desenvolver a espiritualidade dos seus membros. Desconfio que é por ter percebido isso que se afastou da religião.

    ResponderEliminar
  7. Pedro:

    Não sei se conhecemos porque estamos aqui... acho que isso é uma coisa algo subjectiva e que pode ter interpretações diferentes consoante a pessoa. Eu digo que conheço porque aqui estou e chamo-lhe conhecimento, mas outros podê-lo-ão exprimir de outra maneira... embora eu ache que todos nos estejamos a referir ao mesmo.

    Quanto às caixas de Pandora, concordo mesmo consigo! É da nossa natureza, por mais que tentemos, não conseguimos fugir.

    Concordo com isso do conhecimento também. Eu penso exactamente assim. O conhecimento não é bom nem mau, a questão é aquilo que se faz com ele.

    Obrigado eu pela resposta longe e ponderada!

    ResponderEliminar
  8. A liderança jeovista, mesmo que o negue pela boca, no seu íntimo deve dar pleno acordo ao que a NATO está a realizar na Líbia, numa pretensa 'intervenção humanitária': Está a destruir universidades[1], sendo que a liderança jeovista é contra o ensino superior; destroi um estado muçulmano, que a liderança jeovista condena como sendo uma falsa religião; e por último contribui para uma mudança de regime, para uma versão ocidental de democracia que lhes permite sonhar com virem a poder pregar livremente na Líbia!


    [1] www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=25270

    ResponderEliminar