Uma pessoa espiritual é aquela que se
preocupa com as coisas do espírito, ou seja aquelas que não estão directamente
ligadas com o nosso mundo físico, mas são mais abstractas na sua natureza.
Basicamente a pessoa espiritual preocupa-se com o ‘porquê’ das coisas. E talvez
se preocupe acima de tudo com o porquê mais básico de todos, aquele que
pergunta: Porque existimos?
Sim, a busca do sentido da vida e a
preocupação com tudo aquilo que emana dessa busca é a característica da pessoa
espiritual. Esta busca é uma busca pessoal, singular e íntima. Por isso, há
pessoas espirituais e nunca há organizações espirituais.
A espiritualidade não precisa de Deus, ou
de uma crença n'Ele. A espiritualidade dimana da procura de sentido e este pode
ser achado das mais diversas formas com ou sem Deus.
Um homem de ciência é um homem espiritual?
Apenas se a ciência lhe serve como alpondra na sua busca do sentido da vida. Muitas
vezes a ciência oferece os materiais que permitem alargar esse campo de busca
ou colocar-lhe pontos de reflexão, ela é uma ferramenta e não o fim em si da
espiritualidade. A verdade é sempre subjectiva, mesmo quando sobre ela há um
amplo consenso. Qualquer construção humana é sempre temporária, pelo que esta
busca para o sentido da vida, esta tentativa de responder ao porquê da
existência, está sempre sujeita a escrutínio.
A religião é um dos maiores obstáculos à
espiritualidade. Ela já não busca, ela exime-se de escrutínio, reclamando-se
detentora da verdade. Ela possui o pacote pronto, completo e acabado, só tens
de te submeter ao peso da sua verdade, vergar-te à sua vontade avassaladora. O
homem religioso e não espiritual, tem resposta pronta para todos os mistérios
relacionados com o porquê da existência, o porquê da vida, ou seu sentido. O
homem religioso sente-se ofendido quando não aceitam o seu dogma, as respostas
prontas na ponta da língua às questões essenciais. Ele acredita que só não vêem
a sua verdade por uma maldade qualquer, ou porque não foram ainda, tal como ele,
tocados pela bondade divina. A única capaz de permitir que dos olhos cegos dos
incréus e opositores caiam as escamas que os impedem de ver. Não lhe passa pela
mente, nem por instantes, que a sua explicação, as suas respostas prontas, não
correspondam afinal à verdade. Ele solidifica o seu coração, torna-o
empedernido para não ceder à dúvida, quando esta é afinal o motor da busca do
homem espiritual.
O homem espiritual não precisa ser
perfeito. Precisa apenas de ter consciência de si mesmo. Precisa de ser alguém
humilde, para estar disposto a ouvir as ideias alheias e aproveitar delas o que
quiser, fazendo a sua própria ponderação. E depois de pensar ter achado alguma
resposta que considere satisfatória, tem de manter a humildade e acreditar que
possa haver uma mais completa. Muitos homens espirituais são apanhados na
ratoeira de pensar que a resposta que acharam, a última, é a verdade final.
Fecham-se para a necessidade de se continuarem a interrogar. Ao fazê-lo deixam
de ser pessoas espirituais.
Talvez alguém diga que assumir isto, é
dizer que a verdade é inalcançável! Nada atemoriza mais a religião do que um
homem que não aceita que haja uma verdade última e definitiva. Afinal Deus,
deve ser o epítome para onde toda a ideia conduz. Não aceitar isso é o mesmo
que renegar a Deus. Mas essa é uma falsa ideia.
Como disse Ghandi: “Adoro a Deus como sendo
a verdade. Ainda não O
encontrei, mas prossigo na Sua busca!” [1]
[1] An Autobiography (1936); also in All Men Are
Brothers : Autobiographical Reflections (2005) edited by
Krishna Kripalani, p. 63
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